sexta-feira, maio 05, 2006

Caminhos de Ferro...


Podeis chamar-lhe tendência genética, dadas as minhas origens ligadas à ferrovia. Filho de ferroviário, como Salgueiro Maia ou Pablo Neruda, a destruição do património ferroviário, outrora motor de desenvolvimento regional, aglutinador de pessoas oriundas de vários pontos do país (trouxe parte da minha família para o Alentejo), pai de novas povoações, perturba-me e ainda me faz descrer mais no rumo que este país vai tomar.

O comboio, quanto a mim, o mais nobre de todos os meios de transporte, cavalo de ferro, sulca os caminhos de uma forma poética, sem grande impacte ambiental, com grande capacidade de transporte (de pessoas e mercadorias), com riscos mínimos de acidente (ao contrário do seu homólogo rodoviário), e, apesar da grande ênfase dada ao TGV (ligando apenas pontos estratégicos de interesse económico no litoral, que pouco beneficiam o interior esquecido), os ramais do interior continuam a morrer, tal como as regiões que os albergam.
O património da CP no Alentejo tem sido continuamente profanado. Estações fantasmas, linhas oxidadas, agulhas partidas ecoam na solidão da planície. O que ainda as recorda são algumas obras de azulejaria (roubadas das antigas estações) que figuram em algumas casas “in” ou em algum antiquário sem escrúpulos…
Quem ama a ferrovia, quem acredita no seu potencial, não consegue conceber tamanho abandono, acredita na sua modernização e, quem teve esse “prazer”, nunca esquecerá uma aventura entre Évora e Casa Branca (do Alentejo, não está lá nenhum G.W. Bush)… Felizmente esse troço está em obras para melhorar as ligações ao Algarve e Lisboa. Esperemos que seja uma tendência a seguir em vários pontos do país, apesar de, ontem, medidas contrárias terem sido anunciadas.

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