segunda-feira, janeiro 24, 2011

“¡Esos portugueses, hijos de sus madres son!”

Há uma boa expressão idiomática portuguesa que diz: “Quem não se sente, não é filho de boa gente!”. Na realidade, a sabedoria popular está repleta de este tipo de provérbios que se adequam a alguns aspectos da realidade que nos rodeia.
                Na realidade espanhola de certeza que existe uma expressão análoga a esta, ainda que diferente na sua forma, mas com um sentido idêntico. Poderia perfeitamente ser abordada nos meios de comunicação para ilustrar o que se tem passado nos campos de futebol por onde a equipa de Cristiano Ronaldo e José Mourinho passa.
                Todos sabemos que o mundo do futebol, e dos clubismos (rima com fanatismos), pouco tem de racional, estando sempre o emocional ao rubro. Também todos sabemos que estes dois digníssimos portugueses não reúnem consenso, nem adoptam posturas unânimes em termos de atitude, mas nada justifica os brados de fúria, ódio e morte que ecoam das bancadas repletas de “hinchas” que nos remetem para um racismo acéfalo e demagógico típico, mas que insiste em perpetuar-se ao longo dos anos.
                Há escassos minutos terminou um jogo da 2ª volta para a “Copa del Rey”, um derby entre o Atlético de Madrid e o eterno rival Real. O mesmo terminou com um golo português para o Real Madrid e com a eliminatória ganha para os merengues. Até aí nada de especial, apenas desporto.
                Mas este jogo ficou marcado por insultos da parte dos “Colchoneros” a José Mourinho (“¡Muérete Mourinho!”) e a CR7 (“¡Ese português, hijo p… es!”). Não podemos deixar de salientar que os lesados, muitas vezes, também incentivam os impropérios, alegando mais motivação. É triste e pouco digno de ambas as partes.
                Primeiro, a “afición” do Atlético apupa e insulta o treinador e o avançado utilizando a sua nacionalidade, esquecendo-se que em campo tem um elemento inquestionável como Tiago. Também não se lembra que até há pouco Simão suara com dignidade a camisola “colchonera” e que fora um tal de Paulo Futre que marcara o derradeiro golo que deu a última “Copa del Rey”! Sem esquecer que Futre, para além de símbolo do clube, foi director desportivo… Enfim, incongruências perigosíssimas típicas da xenofobia.
                Há uns anos, Luís Figo foi alvo do ódio “culé” dos barcelonistas, apelidado de “pesetero”, teve até direito a lançamentos de cabeças de porco no Camp Nou, mas não me parece que seja nada de especial comparado ao que se vê ultimamente nos relvados da liga espanhola.
                O futebol em Espanha, em todas as ligas e divisões, gera cerca de 2% do PIB espanhol, o que evidencia a sua real importância, que vai bem além da teoria do “pão e do circo”, sendo ainda a sua influência mais determinante na mundivisão do país vizinho.
                Federações, clubes e governos deveriam prestar mais atenção a estes fenómenos que, apesar de muita gente não se dar conta, influencia nas nossas relações transfronteiriças que nos últimos anos têm posto frente a frente Portugal e Espanha, contrariando a secular tendência de estar de costas voltadas para os vizinhos do outro lado da fronteira.
                Motes como “Ese português, hijo p… es” podem começar a extrapolar as linhas dos relvados e a influenciar a imagem que “nuestros hermanos” têm de nós. Não é difícil, e não sei mesmo se isso não está já a acontecer.
Felizmente Portugal não se resume a chuteiras com estilo e blocos de notas futebolísticas sisudos!