domingo, fevereiro 23, 2014

Um desenho de Paulo Ito





Paulo Ito, paulista, desenhou este Dia mundial com carro. E deu os parabéns aos motoristas... :) 



sábado, fevereiro 22, 2014

Câmeras fotográficas antigas #2: 1880-1900



Nas últimas décadas do século XIX as câmeras fotográficas evoluíram bastante e tornaram-se mais pequenas, mais leves e mais acessíveis. Um dos factores por trás desta evolução foi o aperfeiçoamento das chapas e das emulsões sensíveis; o outro chamou-se George Eastman. Este é o segundo artigo dedicado às câmeras fotográficas antigas.

Obvious (tem também o primeiro artigo)





sexta-feira, fevereiro 21, 2014

A uma quadrada pedra que apanhei e me acompanha no caminho...

A Pedro L. Cuadrado.
Que nunca quis ser meu mestre,
mas sim meu amigo…
Não há forma mais humilde de mestria.

33 anos nos separam desde o meu berço.
É a única raia, certificada, que entre nós existe.
O nó cego, esse, bem penteado, não se desate,
não desaperte a corda atada a Pedro, minha

pedra, papel, pilar lírico de apontamentos
na margem esquerda do livro, o lembrete,
a lápis que não rejeita um verso, quanto
mais três, a quem quer que por bem vier.  

A mestria da grandeza do infinito é subtil,
e inútil, convenhamos. Adversa à rima,
à métrica, a cartesiana estética do útil

não nos faz advir sem a tétrica do contratempo.
Encurtam-se braços de abraços. Apartam-se pedras
de sendas angulares e, a paisagem, essa, paupérrima.


(Sem que de isso, uma inteira existência, nos tenhamos dado conta. Passa-se e não nos apercebemos que os melhores pilares são feitos de pedra. Granito frio, extraído em Zamora e trabalhado por mães de artesãos salmantinos. A erosão do tempo foi-o levando rumo ao sul… onde, como dizia Gedeão, “me sento e descanso”)

quinta-feira, fevereiro 20, 2014

Carta ao Pai (Fernado Tordo)


Seguem-se as linhas que o escritor João Tordo dedicou em carta ao seu pai, o músico Fernando Tordo, que aos 65 anos, emigrou para o Brasil.


" Ontem, o meu pai foi-se embora. Não vem e já volta; emigrou para o Recife e deixou este país, onde nasceu e onde viveu durante 65 anos.

A sua reforma seria, por cá, de duzentos e poucos euros, mais uma pequena reforma da Sociedade Portuguesa de Autores que tem servido, durante os últimos anos, para pagar o carro onde se deslocava por Lisboa e para os concertos que foi dando pelo país. Nesses concertos teve salas cheias, meio cheias e, por vezes, quase vazias; fê-lo sempre (era o seu trabalho) com um sorriso nos lábios e boa disposição, ganhando à bilheteira.

Ontem, quando me deitei, senti-me triste. E, ao mesmo tempo, senti-me feliz. Triste, porque o mais normal é que os filhos emigrem e não os pais (mas talvez Portugal tenha sido capaz, nos últimos anos, de conseguir baralhar essa tendência). Feliz, porque admiro-lhe a coragem de começar outra vez num país que quase desconhece (e onde quase o desconhecem), partindo animado pelas coisas novas que irá encontrar.

Tudo isto são coisas pessoais que não interessam a ninguém, excepto à família do senhor Tordo. Acontece que o meu pai, quer se goste ou não da música que fez, foi uma figura conhecida desde muito novo e, portanto, a sua partida, que ele se limitou a anunciar no Facebook, onde mantinha contacto regular com os amigos e admiradores, acabou por se tornar mediática. E é essa a razão pela qual escrevo: porque, quase sem o querer, li alguns dos comentários à sua partida.

Muita gente se despediu com palavras de encorajamento. Outros, contudo, mandaram-no para Cuba. Ou para a Coreia do Norte. Ou disseram que já devia ter emigrado há muito. Que só faz falta quem cá está. Chamam-lhe palavrões dos duros. Associam-no à política, de que se dissociou activamente há décadas (enquanto lá esteve contribuiu, à sua modesta maneira, com outros músicos, escritores, cineastas e artistas, para a libertação de um povo). E perguntaram o que iria fazer: limpar WC e cozinhas? Usufruir da reforma dourada? Agarrar um "tacho" proporcionado pelos "amiguinhos"? Houve até um que, com ironia insuspeita, lhe pediu que "deixasse cá a reforma". Os duzentos e tal euros.

Eu entendo o desamor. Sempre o entendi; é natural, ainda mais natural quando vivemos como vivemos e onde vivemos e com as dificuldades por que passamos. O que eu não entendo é o ódio. O meu pai, que é uma pessoa cheia de defeitos como todos nós – e como todos os autores destes singelos insultos –, fez aquilo que lhe restava fazer.

Quer se queira, quer não, ele faz parte da história da música em Portugal. Sozinho, ou com Ary dos Santos, ou para algumas das vozes mais apreciadas do público de hoje – Carminho, Carlos do Carmo, Mariza, são incontáveis –, fez alguns dos temas que irão perdurar enquanto nos for permitido ouvir música.

Pouco importa quem é o homem; isso fica reservado para a intimidade de quem o conhece. Eu conheço-o: é um tipo simpático e cheio de humor, que está bem com a vida e que, ontem, partiu com uma mala às costas e uma guitarra na mão, aos 65 anos, cansado deste país onde, mais cedo do que tarde, aqueles que o mandam para Cuba, a Coreia do Norte ou limpar WC e cozinhas encontrarão, finalmente, a terra prometida: um lugar onde nada restará senão os reality shows da televisão, as telenovelas e a vergonha.

Os nossos governantes têm-se preparado para anunciar, contentíssimos, que a crise acabou, esquecendo-se de dizer tudo o que acabou com ela. A primeira coisa foi a cultura, que é o património de um país. A segunda foi a felicidade, que está ausente dos rostos de quem anda na rua todos os dias. A terceira foi a esperança. E a quarta foi o meu pai, e outros como ele, que se recusam a ser governados por gente que fez tudo para dar cabo deste país – do país que ele, e milhões de pessoas como ele, cheias de defeitos, quiseram construir: um país melhor para os filhos e para os netos. Fracassaram nesse propósito; enganaram-se ao pensarem que podíamos mudar.

Não queremos mudar. Queremos esta miséria, admitimo-la, deixamos passar. E alguns de nós até aí estão para insultar, do conforto dos seus sofás, quem, por não ter trabalho aqui – e precisar de trabalhar para, aos 65 anos, não se transformar num fantasma ou num pedinte –, pegou nas malas e numa guitarra e se foi embora."

João Tordo
in PÚBLICO, 19/02/2014

terça-feira, fevereiro 18, 2014

O resgate do soldado português - António Orla (1998)


Amor

O amor não se encontra. Faz-se.
Respira-se, transpira-se, chora-se, ri-se.
Nasce e morre.

O amor não tem primeira,
Nem última vista. É míope.
Vê melhor ao perto que ao longe.

O amor não tem idade.
Aprendes a relativizar


Na infantil maturidade.
E, com sorte,
Antes que te separe a morte,
Rir-te-ás com humor de velho
(cúmplice de ti mesmo
numa gargalhada rouca de companhia
daquele com quem pudemos ter
a última conversa do dia).

O amor é aquilo que se vai fazendo dele.
Em português são quatro letras
Para cinco sentidos

E apenas uma vida.

domingo, fevereiro 09, 2014

segunda-feira, fevereiro 03, 2014

Uma questão de costumes (Fernando Campos)



Uma questão de costumes, de Fernando Campos, no seu blogue osítiodosdesenhos.






Drummond e O'Neill



Só pelo acaso é que aparecem aqui estes poemas de Drummond e O'Neill. Bem-vindos sejam sempre estes dois poetas às nossas mãos.


JANELA

Tarde dominga tarde
pacificada como os atos definitivos.
Algumas folhas de amendoeira expiram em degradado vermelho.
Outras estão apenas nascendo,
verde polido onde a luz estala.
O tronco é o mesmo
e todas as folhas são a mesma antiga
folha
a brotar de seu fim
enquanto roazmente
a vida, sem contraste, me destrói.

Carlos Drummond de Andrade

Lição de coisas (1965)


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TOMA TOMA TOMA

Ainda prefiro os bonecos de cachaporra,
contundentes, contundidos, esmocados,
com vozes de cana rachada e um toma toma toma
de quem não usa a moca para coçar os piolhos,
mas para rachar as cabeças.

O padreca, o diabo, a criadita,
o tarata, a velha alcoviteira, o galã
e, às vezes, um verdadeiro rato branco trapezista,
tramavam para nós a estafada estória
da nossa própria vida.

Mundo de pasta e de trapo
que armava barraca em qualquer canto
e sem contemplações pela moral de classe
nem as subtilezas de quem fica ileso
desancava os maus e beijocava os bons.

Ainda prefiro os bonecos de cachaporra.

Ainda hoje esbracejo e me esganiço como esses
matraquilhos da comédia humana.

Alexandre O'Neill

A saca de orelhas (1979)