Recordo-me bastante bem de ter lido uma crítica deste documentário, há uns anos atrás, na revista Visão. Tinha sido nomeado para o Óscar de Melhor Documentário de 2005 e já fora premiado em Sundance.
Na altura pensei que fosse o típico filme sobre pessoas com necessidades especiais, talvez com o tom do costume que nos faz sentir sentimentos que não são dignos de gente com esta coragem e calibre. Principalmente o sentimento de pena.
Hoje, depois de um dia bastante ocupado, ao final do serão, pude visionar este documentário e fiquei impressionado com a capacidade de superação destes jogadores de Rugby adaptado, atletas de gabarito olímpico, a quem os adeptos do desporto ainda não estão acostumados a reconhecer o devido valor atlético. Para além de superarem os seus handicaps, que os votaram às duas rodas da cadeira, têm de se superar enquanto atletas, treinando ao mais alto nível e degladiado-se com equipas com iguais obejectivos.
Um dos maiores atletas de sempre de "quad rugby" é um descendente de emigrantes portugueses nos EUA. De nome Joe Soares, o seu espírito competitivo e vontade de superação impressionaram-me, tal como a referência que faz aos cidadãos portadores de deficiência em Portugal. Ainda temos muito que aprender e aceitar que estes seres humanos não são diferentes do que apelidados de normal. Têm direitos. Bastantes. Tal como todos nós. E o principal direito é poderem realizar-se como seres humanos, seja de pé ou em cadeira de rodas.
sexta-feira, abril 30, 2010
quinta-feira, abril 29, 2010
Se tu fores ver o mar (Rosalinda)
À beira-mar sentado lembrei-me da "Rosalinda" de Fausto:
"Rosalinda
se tu fores à praia
se tu fores ver o mar
cuidado não te descaia
o teu pé de catraia
em óleo sujo à beira-mar
vão fazer uma central
que para alguns é nuclear
mas para muitos é mortal
os peixes hão-de vir à mão
um doente outro sem vida
não tem vida o pescador
morre o sável e o salmão
isto é civilização
assim falou um senhor
tem cuidado"
"Rosalinda
se tu fores à praia
se tu fores ver o mar
cuidado não te descaia
o teu pé de catraia
em óleo sujo à beira-mar
a branca areia de ontem
está cheiinha de alcatrão
as dunas de vento batidas
são de plástico e carvão
e cheiram mal como avenidas
vieram para aqui fugidas
a lama a putrefacção
as aves já voam feridas
e outras caem ao chão
Mas na verdade Rosalinda
nas fábricas que ali vês
o operário respira ainda
envenenado a desmaiar
o que mais há desta aridez
pois os que mandam no mundo
só vivem querendo ganhar
mesmo matando aquele
que morrendo vive a trabalhar
tem cuidado...
Rosalinda
se tu fores à praia
se tu fores ver o mar
cuidado não te descaia
o teu pé de catraia
em óleo sujo à beira-mar
vão fazer uma central
que para alguns é nuclear
mas para muitos é mortal
os peixes hão-de vir à mão
um doente outro sem vida
não tem vida o pescador
morre o sável e o salmão
isto é civilização
assim falou um senhor
tem cuidado"
O que se ouve por aqui...
"Que força foi essa" que uniu estes três nomes grandes da música portuguesa? "Não lhes troquemos as voltas" porque o resultado foi impecável! Três homens, três rostos do canto de intervenção português, três sensibilidades poéticas, três estéticas musicais, três grandes juntos num projecto memorável e que, felizmente, já faz parte da minha banda sonora dos últimos meses!
Fiquei mesmo com "um brilhozinho nos olhos" no dia que pus este disco a tocar pela primeira vez. Sorte daqueles que puderam disfrutar da presença destes senhores nos concertos em Lisboa e Porto!
Pode ser que ainda os vejamos ao vivo em alguma terra do interior português! Isso é que era!
Fiquei mesmo com "um brilhozinho nos olhos" no dia que pus este disco a tocar pela primeira vez. Sorte daqueles que puderam disfrutar da presença destes senhores nos concertos em Lisboa e Porto!
Pode ser que ainda os vejamos ao vivo em alguma terra do interior português! Isso é que era!
As bifanas de Vendas Novas II
É curioso este mundo da internet! Tanta informação livre para partilhar que vai desde o mais profundo ensaio filosófico, da refinada tese científica, até ao mais mundano e prosaico. E é por isso mesmo que, apesar de todas as críticas a este revolucionário meio de comunicação, o mundo nunca mais vai ser o mesmo depois deste invento...
Tudo isto para dizer o quê? Nada de especial. Que, mesmo com fotos, textos e videos de tanta gente que partilha este blog, o post mais visitado de todos é um dedicado às excelentes BIFANAS de Vendas Novas! Pelo seu paladar, só lhe tenho que reconhecer o mérito...
Eis mais algumas fotos desse "Manjar dos Pobres", a quem os deuses também não resistem...
Tudo isto para dizer o quê? Nada de especial. Que, mesmo com fotos, textos e videos de tanta gente que partilha este blog, o post mais visitado de todos é um dedicado às excelentes BIFANAS de Vendas Novas! Pelo seu paladar, só lhe tenho que reconhecer o mérito...
Eis mais algumas fotos desse "Manjar dos Pobres", a quem os deuses também não resistem...
terça-feira, abril 27, 2010
Évora em poucos pixeis...
Esta é a minha cidade. Minha mesmo, apesar da distância por vezes. Mais do que português, sou eborense e, perdoem-me a presunção, da capital do Alentejo. Apesar de a criticar muitas vezes, e nos últimos anos têm sido bastantes, é normal criticar o que amamos, talvez isso seja uma das derradeiras manifestações de amor por algo. Não conseguimos lidar facilmente com as suas imperfeições, falhas... mas talvez as criticas sejam mais um grito de socorro do que outra coisa... um chamamento aos que poderão alterar aquilo com que nós nos identificamos na nossa cidade.
Uma das coisas boas da novas tecnologias são as câmaras fotográficas incorporadas nos telemóveis, pois nem sempre podemos andar com as nossas fieis máquinas ao ombro, e é nesses momentos que uns poucos de pixeis à mão de semear são úteis!
Estas são algumas fotos da minha cidade, trago-as no bolso desde alguns passos matinais pela calçada e pelo centro histórico e mostram um pouco do que vejo nela... Évora, o meu património...
Uma das coisas boas da novas tecnologias são as câmaras fotográficas incorporadas nos telemóveis, pois nem sempre podemos andar com as nossas fieis máquinas ao ombro, e é nesses momentos que uns poucos de pixeis à mão de semear são úteis!
Estas são algumas fotos da minha cidade, trago-as no bolso desde alguns passos matinais pela calçada e pelo centro histórico e mostram um pouco do que vejo nela... Évora, o meu património...
segunda-feira, abril 26, 2010
Red Cross Army (O exército dos bons!)
Para quem não sabe (eu também não sabia até ter visto um filme sobre o tema), a Cruz Vermelha é uma instituição humanitária fundada em 1863 em Genebra, por Henry Dunant.
O seu comité de 25 membros possui uma autoridade única sob a lei internacional humanitária para proteger a vida e a dignidade de vítimas de conflitos internacionais e internos.
É um exército com fins nobres e já foi premiado com o Prémio Nobel da Paz três vezes, nos anos de 1917, 1944 e 1963.
Conheço o funcionamento de algumas delegações da Cruz Vermelha e posso assegurar que estão lá quando é necessário! Curiosa também é a sua história, digna de relatos e repleta de gente altruísta e excelente veículos hoje autênticos clássicos!
O seu comité de 25 membros possui uma autoridade única sob a lei internacional humanitária para proteger a vida e a dignidade de vítimas de conflitos internacionais e internos.
É um exército com fins nobres e já foi premiado com o Prémio Nobel da Paz três vezes, nos anos de 1917, 1944 e 1963.
Conheço o funcionamento de algumas delegações da Cruz Vermelha e posso assegurar que estão lá quando é necessário! Curiosa também é a sua história, digna de relatos e repleta de gente altruísta e excelente veículos hoje autênticos clássicos!
Ervideira Wine
Não me posso considerar um grande apreciador de vinhos, porque o meu lado infantil é muito mais forte que o lado petisqueiro (prefiro papa cerelac ou leite com chocolate a um copo de vinho), no entanto, ao longo dos últimos anos, tenho prestado mais atenção a esta arte dionisíaca que acompanha a humanidade há milénios.
Foi no último Rali Ervideira que pude encontrar este ângulo e apanhar três coisas fundamentais neste mundo de Baco: as garrafa, as rolhas e uma janela para refrescar a cara!
Foi no último Rali Ervideira que pude encontrar este ângulo e apanhar três coisas fundamentais neste mundo de Baco: as garrafa, as rolhas e uma janela para refrescar a cara!
Black&White
O Michael Jackson já tinha morrido quando tirei esta fotografia no antigo restaurante do meu tio, que também já fechou as portas... infelizmente. "Os Mares do Sul" tinham estes saleiros que não sei porquê achei piada... já algum tempo que os tinha aqui no baú digital de recordações... o tempo é que não tem sido muito.
Danger Zone
domingo, abril 25, 2010
Cravos Ibéricos
Abril, para além das típicas “águas mil”, é um mês especial na história comum da península. Há 36 anos, um cravo irrompeu livremente numa madrugada trazendo consigo uma liberdade trancada durante 48 anos de regime totalitário e de orientação fascista.
De facto, apesar das imperfeições da democracia de Abril, apelidada ultimamente de imperfeita e de qualidade duvidosa, esta efeméride foi mais importante do que muito se pensa no contexto das relações transfronteiriças entre Portugal e Espanha na época.
Como a história nos mostrou, durante trinta anos (1939-1969), Oliveira Salazar e Francisco Franco coexistiram enquanto governantes de dois países cujos laços se manifestavam a dois níveis: o oficial (ideológico fundamentalmente) e o não-oficial, repleto de desconfiança e atenção mútua e permanente, atenta aos avanços, recuos e posições, quer a nível interno quer a nível internacional, sendo a política colonial ultramarina do Estado Novo alvo de bastante atenção por parte do “generalissímo”. Contudo, a disparidade na dimensão dos dois países, determinou evidentemente as respectivas atitudes e posições dos regimes.
Segundo alguns historiadores, aquando do 25 de Abril de 1974, Franco coloca em alerta vários contingentes militares espanhóis em alerta para uma eventual invasão do território português, de forma a conter os ecos de uma revolução que cruzaram a fronteira de forma tão rápida quanto “Grândola Vila-Morena” se difundiu aos microfones da Rádio Renascença.
O medo da contaminação “roja” em Espanha fechou de imediato as fronteiras, passando apenas alguns refugiados bem colocados junto do regime franquista ou de boa situação económica que lhes permitisse passar, quer corrompendo guardas fronteiriços ou pagando “a salto” os serviços de um contrabandista. Esta parte da história recente, irónica sem dúvida, não está tão estudada como outros aspectos ligados aos exilados políticos do Estado Novo e está bastante baseada na recolha oral que não a fundamenta como tal no âmbito da historiografia. Note-se o exemplo da família Espírito-Santo, que, de acordo com afirmações de autóctones da raia de Valencia de Alcántara, viu alguns dos seus membros cruzarem a fronteira dos Galegos, em direcção ao norte da Extremadura espanhola, devido à repentina mudança política em Portugal.
Curiosamente, o medo vermelho antes referido, não vinha apenas de Espanha, mas sim do outro lado do oceano, de uns EUA, imersos numa Guerra Fria, que utilizavam a NATO como instrumento militar de controlo politico e ideológico na Europa, algo a que António de Spínola, receando uma tomada de poder por parte do PCP, recorreu ao pedir apoio ao Secretariado de Estado Norte-Americano para uma intervenção da NATO em Portugal.
Apesar de os Estados Unidos não se oporem a uma eventual intervenção espanhola, a mesma nunca passou do plano das ideias. Era evidente a superioridade militar espanhola e os 13 anos de guerra colonial estarem a passar factura, num esforço de guerra sete vezes superior ao norte-americano no Vietname, às forças armadas lusas. Contudo, a moral e a experiência de guerra dos últimos anos dos militares portugueses têm sido muitas vezes esquecidas neste tipo de análise, e que creio nunca ter sido subestimada, mesmo já em avançada idade, por um castrense como Franco. Seria um conflito perdido, amoral pelo lado espanhol, e que isolaria ainda mais uma Espanha invasora e fascista aos olhos da opinião pública mundial.
A história fala por si a que se dispõe a escutá-la, e Espanha, um ano mais tarde enterrou naturalmente o seu ditador e abriu-se, também ela, à liberdade auxiliada pela figura de Juan Carlos I, que ainda hoje não reúne consenso numa monarquia vista como “herança” de Franco. Para muitos não foi a mudança necessária, mas indubitavelmente foi a mudança possível na época, evitando os ecos constantes de uma guerra civil que bem conheciam. É neste ponto que creio que o 25 de Abril português foi um bom exemplo para os “nuestros hermanos” ao apenas derramar o vermelho dos cravos entre o seu povo.
Daí que o 25 de Abril não é apanágio exclusivo português, há gente do outro lado da fronteira que também o sente como seu e o canta como o Zeca nos ensinou. Para mim, é com orgulho que uno a voz a Espanha (recomendo o canta-autor extremenho Luis Pastor) e podemos cantar a nossa liberdade por mais imperfeita que seja.
De facto, apesar das imperfeições da democracia de Abril, apelidada ultimamente de imperfeita e de qualidade duvidosa, esta efeméride foi mais importante do que muito se pensa no contexto das relações transfronteiriças entre Portugal e Espanha na época.
Como a história nos mostrou, durante trinta anos (1939-1969), Oliveira Salazar e Francisco Franco coexistiram enquanto governantes de dois países cujos laços se manifestavam a dois níveis: o oficial (ideológico fundamentalmente) e o não-oficial, repleto de desconfiança e atenção mútua e permanente, atenta aos avanços, recuos e posições, quer a nível interno quer a nível internacional, sendo a política colonial ultramarina do Estado Novo alvo de bastante atenção por parte do “generalissímo”. Contudo, a disparidade na dimensão dos dois países, determinou evidentemente as respectivas atitudes e posições dos regimes.
Segundo alguns historiadores, aquando do 25 de Abril de 1974, Franco coloca em alerta vários contingentes militares espanhóis em alerta para uma eventual invasão do território português, de forma a conter os ecos de uma revolução que cruzaram a fronteira de forma tão rápida quanto “Grândola Vila-Morena” se difundiu aos microfones da Rádio Renascença.
O medo da contaminação “roja” em Espanha fechou de imediato as fronteiras, passando apenas alguns refugiados bem colocados junto do regime franquista ou de boa situação económica que lhes permitisse passar, quer corrompendo guardas fronteiriços ou pagando “a salto” os serviços de um contrabandista. Esta parte da história recente, irónica sem dúvida, não está tão estudada como outros aspectos ligados aos exilados políticos do Estado Novo e está bastante baseada na recolha oral que não a fundamenta como tal no âmbito da historiografia. Note-se o exemplo da família Espírito-Santo, que, de acordo com afirmações de autóctones da raia de Valencia de Alcántara, viu alguns dos seus membros cruzarem a fronteira dos Galegos, em direcção ao norte da Extremadura espanhola, devido à repentina mudança política em Portugal.
Curiosamente, o medo vermelho antes referido, não vinha apenas de Espanha, mas sim do outro lado do oceano, de uns EUA, imersos numa Guerra Fria, que utilizavam a NATO como instrumento militar de controlo politico e ideológico na Europa, algo a que António de Spínola, receando uma tomada de poder por parte do PCP, recorreu ao pedir apoio ao Secretariado de Estado Norte-Americano para uma intervenção da NATO em Portugal.
Apesar de os Estados Unidos não se oporem a uma eventual intervenção espanhola, a mesma nunca passou do plano das ideias. Era evidente a superioridade militar espanhola e os 13 anos de guerra colonial estarem a passar factura, num esforço de guerra sete vezes superior ao norte-americano no Vietname, às forças armadas lusas. Contudo, a moral e a experiência de guerra dos últimos anos dos militares portugueses têm sido muitas vezes esquecidas neste tipo de análise, e que creio nunca ter sido subestimada, mesmo já em avançada idade, por um castrense como Franco. Seria um conflito perdido, amoral pelo lado espanhol, e que isolaria ainda mais uma Espanha invasora e fascista aos olhos da opinião pública mundial.
A história fala por si a que se dispõe a escutá-la, e Espanha, um ano mais tarde enterrou naturalmente o seu ditador e abriu-se, também ela, à liberdade auxiliada pela figura de Juan Carlos I, que ainda hoje não reúne consenso numa monarquia vista como “herança” de Franco. Para muitos não foi a mudança necessária, mas indubitavelmente foi a mudança possível na época, evitando os ecos constantes de uma guerra civil que bem conheciam. É neste ponto que creio que o 25 de Abril português foi um bom exemplo para os “nuestros hermanos” ao apenas derramar o vermelho dos cravos entre o seu povo.
Daí que o 25 de Abril não é apanágio exclusivo português, há gente do outro lado da fronteira que também o sente como seu e o canta como o Zeca nos ensinou. Para mim, é com orgulho que uno a voz a Espanha (recomendo o canta-autor extremenho Luis Pastor) e podemos cantar a nossa liberdade por mais imperfeita que seja.