segunda-feira, agosto 21, 2006

Terra Devastada


A páginas tantas, de um dos seus peculiares escritos, crónicas, ou artigos jornalísticos, Eça de Queirós, em finais do século XIX, apelidava a Serra D'Ossa como a "Serra das Mil Fontes". Decerto parecerá um pouco estranho para quem conhece a serra em questão desde há 20 anos, ou um pouco mais, para cá e não lhe reconhece quaisquer qualidades para mil fontes. Segundo consta, é verdade. A Serra D'Ossa fora um centro de riqueza natural que alimentou e agregou muita gente e deu origem a várias localidades e povoados.
Mas os interesses acabam sempre por falar mais altos, interesses esses que nada têm a ver com progresso e que pervertem muitos dos conceitos a ele inerentes. Após a era das "mil fontes", veio o primeiro apocalipse seguido da era da industria da celulose, com eucaliptos, espécie, segundo creio, oriunda de terrenos secos e pobre como os do interior da Austrália, e o seu braço legal e institucional, a Portucel. As fontes secaram, a paisagem também...
Hoje, após os incêndios de há uma semana, não sei em que era entramos, não sei quem lucra com a terra devastada e, sinceramente, entristece-me ver o rumo que leva o património natural do meu Alentejo. A história repete-se, isso já é um dado adquirido, mas os incêndios acabarão, pois, num futuro muito próximo, é impossível arder o deserto, devastar o que já está devastado.
(Fotos tiradas dia 21/08/2006)

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