Vi hoje uma reportagem na televisão portuguesa que falava sobre o destino deste monumento espanhol. A reportagem, assim como este monumento deixam-me intrigado, curioso no que à sua História concerne.
Sou português, alentejano, de 27 anos de idade. Não vivi o 25 de Abril, a ditadura de António de Oliveira Salazar e menos ainda sei sobre o franquismo ou a guerra civil espanhola.
Retrocedendo, a reportagem falava sobre o projecto de renovação deste monumento ao franquismo. Imaginado por Francisco Franco para seu mausoléu, elevado, construído por “escravos políticos” republicanos. Túmulo também de cerca de 40 000 combatentes da guerra civil (maioritariamente republicanos, opositores ao regime).
O objectivo desta remodelação é a neutralização de um monumento a Franco. A neutralização do franquismo.
Como já referi, estou a olhar de fora. Não me parece bem esta resolução.
Vou fazer algumas comparações, se me é permitido.
Em Portugal, logo após e revolução de Abril foi alterada a denominação de uma das mais importantes pontes do país: Ponte Salazar era, Ponte 25 de Abril ficou. Não estou a defender os ditadores ou regimes. Apenas defendo a memória do passado. Se hoje somos como somos, ao passado o devemos. Os portugueses são retraídos; são! Fruto dos anos de repressão que sofreram. Não podemos dizer apenas que fomos “donos do mundo”; temos que aprender com isso, ser empreendedores; não podemos esquecer que fomos os maiores mercadores de escravos, pior, impulsionadores da escravatura. Antes de acusarmos os outros países devemos olhar e pensar o que já fizemos em abono dos direitos humanos.
Nenhum cidadão alemão que seja dito como normal (socialmente) se orgulha do passado do seu país, mas aushwitz está de pé, como prova do pior que o Homem pode fazer.
Pelo que tenho lido, ouvido (não sei se será exactamente assim), o povo espanhol não gosta de falar, de lembrar este período da sua governação. Na minha opinião não se deve esquecer, evitar lembrar ou falar. É necessário olhar para ele todos os dias, pensar que hoje as pessoas não mudaram todas e que todos temos algo a lembrar, a reter.
Fiquei curioso: porquê retirar todos os símbolos franquistas e manter lá Francisco Franco?
É apenas uma opinião. Que me perdoem se estou mal informado ou distorcer algo.
Caro amigo, entendo o teu ponto de vista. No entanto, devo dizer que estamos perante dois tipos de ditadores e realidade históricas distintas, apesar de existirem algumas coisas que parecem comuns.
ResponderEliminarSalazar era um académico, um homem duro e de ideais típicos do fascismo, mas também um homem despojado de bens materias, crente em Deus e na vida austera...
continuo em breve...
... já Franco, como deves ter visto no documentário, tinha características típicas de um fascismo militarizado, de milicias e organizações paramilitares (que também existiram em Portugal) em que a sua megalomania ficou na história com um túmulo "faraónico"... na teoria em memória dos caídos dos dois lados, mas, na prática, apenas do lado dos falangistas...
ResponderEliminarHoje em dia está muito "em moda" a questão da "memória histórica", algo que em vez de trazer dignidade ao passado (nada digno) opõe novamente as pessoas...
Também creio que elementos anti-constitucionais (bandeiras fascistas, com suásticas, entre outras) devem ser proibido pelo que representam de ameaça à democracia (o que não deixa de ser uma contradição), mas neste caso, uma vez que ainda há muita gente que crê que Franco "ha sido de puta madre" o caso complica-se... mas aí também entra a liberdade... e eu, desde que não coloquem a minha liberdade em jogo, exerço o meu direito de não acreditar em gente com este tipo de valores.
Já tive a sorte (ou o azar) de conhecer em detalhe este vale e a sensação não foi positiva... Guadarrama ficou marcada para sempre pela crueldade e a megalomanía...
Caro Luís.
ResponderEliminarIsto dá para uma boa conversa. A questão é que Franco morreu, está no Valle de los Caídos, mas o subconsciente colectivo da educação franquista ainda não desapareceu em muitos lugares. A chamada TRANSICIÓN foi um engano uma traição aos democratas
Caro amigo Javier, o que tu dizes já me apercebi, principalmente em ambientes pequenos ("de pueblo") onde ainda existe uma estrutura baseada no que te referes...
ResponderEliminarÉ curioso, um dos pontos de vista mais interessantes que vi sobre este tema não foi através da óptica de um espanhol, mas sim de um inglês apaixonado por Espanha. Graham Greene, no seu "Monseñor Quijote". Destaco a "cena" do encontro entre os dois viajantes e a "guardia civil"...
Fico contente por saber que desplotei um diálogo de interesse.
ResponderEliminarGostaria apenas de voltar a referir que é apenas um ponte de vista de alguém que "está de fora", sem experiências vividas em Espanha.