Poderia falar dos vários aspectos estéticos que este filme de Marco Martins apresenta, da sua excelente banda sonora composta pelo pianista, que tanto gosto e conheci em 1999 com o Trio Carlos Barreto, Bernardo Sasseti, mas não. Este filme, para além de tudo o que disse, tem uma cena, num topo de um prédio, em que uma senhora, uma voz da sabedoria popular, afirma que quem sofre mais com o desaparecimento de uma criança é sempre a mãe, apelando à união, quiçá, intra-uterina. No entanto, o filme retrata exactamente o contrário, o sofrimento paternal, o abismo que o homem sente, as máscaras que coloca para enfrentar a ausência, o peso de uma racionalidade que esconde a loucura do sofrimento… Eis um grande exemplo de cinema português, de arte, de humanismo, do que é ser homem e lidar com a dor lacerante de perder alguém… sem saber como "encaixar" esse sentimento.
Concordo. É um filme único no cinema português, e até mesmo no cinema mundial. A forma como a cidade cinzenta e fria é quase transformada numa personagem é absolutamente genial. E a banda sonora acompanha-nos durante muito tempo. É, na minha opinião, o melhor filme português que já vi.
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