Hoje, em busca de materiais líricos para um projecto, encalhei no Sebastião e, em sua memória, publico este seu poema e uma fotografia de uma das poucas fortificações filipinas existentes em território luso.
Talvez muitos de vós, vos identificais com as suas palavras, no meu caso, creio que os tempos mudaram… como eu gostava que o mundo tivesse ignorantes deste tipo.
Nasci p'ra ser ignorante
Mas os parentes teimaram
(e dali não arrancaram)
em fazer de mim estudante.
Que remédio? Obedeci.
Há já três lustros que estudo.
Aprender, aprendi tudo,
mas tudo desaprendi.
Perdi o nome às Estrelas,
aos nossos rios e aos de fora.
Confundo fauna com flora.
Atrapalham-me as parcelas.
Mas passo dias inteiros
a ver um rio passar.
Com aves e ondas do Mar
tenho amores verdadeiros.
Rebrilha sempre uma Estrela
por sobre o meu parapeito;
pois não sou eu que me deito
sem ter falado com ela.
Conheço mais de mil flores.
Elas conhecem-me a mim.
Só não sei como em latim
as crismaram os doutores.
No entanto sou promovido,
mal haja lugar aberto,
a mestre: julgam-me esperto,
inteligente e sabido.
O pior é se um director
espreita p'la fechadura:
lá se vai licenciatura
se ouve as lições do doutor.
Lá se vai o ordenado
de tuta e meia por mês,
Lá fico eu de uma vez
um Poeta desempregado.
Se me não lograr o fado,
porém, com tais directores,
e de rios, aves e flores
somente for vigiado.
Enquanto as aulas correrem
não sentirei calafrios,
que flores, aves e rios
ignorante é que me querem.
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