terça-feira, outubro 20, 2009

Eixos Patrimoniais

A rádio é, desde há algum tempo, a minha mais fiel companheira de viagem e, mais do que um hábito, tornou-se um vício que vai mais para além da melomania e que tem na informação e nas tertúlias um argumento de peso para esta minha adição. E a “rádio fórmula” espanhola privilegia bastante os espaços de tertúlia de qualidade, ao invés da rádio lusa que se apresenta, quanto a mim, muitíssimo mais desenvolvida em termos de divulgação musical. Mas como diz um amigo, isso “são pontos de vista e nada mais”.

Mas foi na rádio que eu encontrei, ou melhor dito, ouvi algo que me impressionou pela positiva e que como eborense de nascimento e “extremenho de adopção” me deixou a pensar.

Na semana passada, não sei precisar o dia em questão, uma plataforma de cidadãos da Extremadura espanhola manifestou-se a favor da inclusão de rotas de voos “low-cost” no aeroporto pacense (dada a proximidade) de Talavera la Real. Um dos argumentos que suportam a actuação desta associação de cidadãos, e que fora enunciado na reportagem radiofónica que escutei com atenção, baseia-se no “eixo patrimonial” que esta região apresenta, com dois patrimónios da UNESCO “extremenhos”, Mérida (capital da região) e Cáceres (capital da província do norte), recorrendo a outro património do “Alentejo português, a cidade de Évora”, citando, “ipsis verbis”, o oportuno interveniente.

Que já há algum tempo nos utilizamos como argumentos mútuos (alentejanos e estremenhos) e que somos mercados dependentes e cúmplices culturais, já todos o sabíamos, mas o que me deixou admirado (gosto desta palavra, recorda-me pessoas mais velhas, não sei porquê…) foi o recurso à nossa “Ebora Liberalitas Julia” para trazer para aqui próximo os autocarros do ar das “RyanAir”, “Vuelings”, ou “Easy Jets”. Sem dúvida que, para quem aqui nasceu e aqui faz a sua vida é prestigiante e, sem esquecer que a nossa cidade também tem uma vocação aérea com aeródromos e escolas de pilotagem, que ultimamente têm aparecido nas aberturas dos telejornais, e futuras, talvez já messiânicas, fábricas de aviões e componentes de um plano tecnológico de assinaturas.

Enfim, e já que esta crónica é escrita em rescaldo de autárquicas e ainda é possível constatar nos meios de comunicação regional os efeitos da pugna entre as duas principais organizações partidárias, só esperamos que caso haja do outro lado da fronteira condições para as aterragens de baixo preço que a bela Évora, “que olha os horizontes do alto” (já o dissera Torga), não olhe demasiado alto, que caia mais na realidade e veja que quem a visita necessita de coisas tão básicas que dão vitalidade económica e cultural à cidade que encontra o seu sustento principal nas pedras inertes dos seus monumentos e não nos “olhos negros e hematomas” políticos de gente que ainda não entendeu que não há vencedores, apenas uma perdedora. E vocês sabem bem a quem me refiro.

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