Desde a semana passada que a região vizinha da Extremadura espanhola conta com o primeiro centro de negócios de uma comunidade autónoma em território português, em Lisboa. A iniciativa é pioneira e, sem dúvida, uma mais-valia para a inserção das empresas extremenhas no mercado luso. Seguramente que mais comunidades autónomas espanholas (com pertinência para a Galiza, Castela e Leão e Andaluzia) lhe seguirão o exemplo e terão um “Plan Portugal” como a Extremadura tem promovido nos últimos anos.
Para algumas pessoas, certamente estamos perante mais uma ameaça à soberania do bacalhau à Gomes Sá, do vinho do Porto e do cozido à portuguesa. Como também gosto de “paella” e de “jamón”, penso que podemos aproveitar esta “invasão” e criar novos vínculos afectivos (já que o Alentejo têm mais em comum com a planura da Extremadura do que propriamente com o Alto Douro) e aproveitar para crescermos juntos no mercado ibero-americano.
O âmbito do turismo também não foi esquecido, continuando a Extremadura a “semear em Portugal”, expressão utilizada frequentemente pelo presidente da comunidade, Guillermo Fernandez Vara, ao assinar um convénio com a Associação Industrial Portuguesa no qual se compromete a participar em vários certames organizados pela mesma, nomeadamente na BTL de 2010, com um stand da marca Extremadura.
A economia extremenha não é propriamente um exemplo de economia autonómica pujante, apresentando apenas 2,5% do total das exportações espanholas para Portugal. Curiosamente, esta comunidade representa 4,1% do total das importações do país vizinho desde Portugal.
A estratégia é clara e ajudará as empresas extremenhas a ascenderem a um estatuto internacional, apesar dos seus problemas económicos e da sua pequena dimensão. Algo que também pode ser análogo às inúmeras empresas portuguesas, em especial do centro e do norte Alentejo, que se encontram com dificuldades semelhantes mas que poderão ter mais vantagens que desvantagens. Aí a língua portuguesa, com todas as suas características fonéticas e morfológicas, pode ser um argumento de peso. Como é fácil para um português comunicar e fazer-se entender. O mesmo não acontece com os “nuestros hermanos”, mas já se deram conta dessa sua lacuna e têm investido bastante em idiomas, em especial o nosso. Não me parece que nos tenham na primeira linha, nem que o TGV seja determinante para o “controlo” da economia ibérica. Tal como no século XVI, as oportunidades reluzem nas águas do Atlântico e nos 47% do território da América do Sul que fala a língua de Camões. Sabem bem a que território me refiro?
E nós? E os restantes 53% (sem nos esquecermos da América do Norte já com “células” de emigração lusa) em que se fala o idioma de Cervantes?
É muito fácil culparmos os outros de intromissão e de aproveitamento de recursos que cremos ser nossos. É fácil, efectivamente. Mas também é cómodo, sem esquecer (sem reconhecer) que o que mais oculta é a nossa inércia colectiva.
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