Quanto de ridículo e irónico tem o amor... ridículo... ridículo... Hoje em dia já me é indiferente o "ridicularidade" de certas coisas, mas o amor nunca seria o mesmo sem estas coisas "fofas", "foleiras", "cuchicuchi", "cursi" (em espanhol)... nem o negócio dos dias dos namorados e afins... Hoje estou mais a dar para o esdrúxulo, nem grave, nem agudo, esdrúxulo efectivamente, mas mesmo assim lembrei-me do heterónimo de Pessoa...
Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.
Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.
Como as outras,
Ridículas.
As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.
Têm de ser
Ridículas.
Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.
A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.
(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)
Álvaro de Campos, 21-10-1935
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