O dia em que nasci meu pai cantava
versos que inventam os pastores do monte
com palavras de lã fiada fina
cordeiro lírio neve tojo fonte
esta é uma velha história de família
para dizer como ele e eu chegámos
à raiz mais profunda do afecto
da qual nunca jamais nos separámos
nem Deus feito menino teve um pai
que o abraçasse e lhe cantasse assim
desde a primeira hora até ao fim
fui vê-lo ao hospital quando morria
olhos parados num sorriso leve
tojo cordeiro lírio fonte neve
Lisboa, 28-XII-93
Do seu livro Respiração Assistida, publicado pela Assírio & Alvim, 2003
Conheci este poema através do meu bom amigo Pedro (para variar... como sabem, é quem me põe a par deste mundo fantástico lírico ao qual deveria dedicar mais tempo) e hoje dedico-o ao meu avô João Leal, no seu 87º aniversário, para quem gostaria de poder cantar de modo a embalar suavemente a sua espera pelo final...
Também hoje faz um ano que vi o meu tio Leopoldo pela penúltima vez. Pena que estava à pressa. A última vez já estava frio e não pôde meter-se comigo... nem pegar no Santiago ao colo.
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