domingo, agosto 31, 2014

O Consentimento do Ódio (Texto)

Com a mente aturdida, mas passo-a-passo com o mestre sincronizado, um discípulo assume a sua confusão.
- Mas, Mestre está a dizer-me que soltar o nosso ódio resulta benéfico?
Ao qual, o mesmo respondeu, da forma como estavam habituados a reflectir através do diálogo, com outra interrogação.  
- Pensa bem, jovem amigo, não é positivo odiar a iniquidade, a discriminação, o egocentrismo, a altivez e todas essas particularidades que desfiguram o nosso coração?
Continuaram a caminhar lado a lado, à sombra rasgada pelos raios matinais de sol, e chegam a uma pequena clareira no bosque de bambu que com eles madrugava. O mestre contemplou o jovem rosto. Suavemente com uma mão de realidade, mas sem frenesi de verdade, apoiou-a absoluta e sem peso no ombro esquerdo do dilecto jovem.

- Na natureza existe, exibe-nos constantemente a sua total repulsa para manter o seu equilíbrio, para melhorar-se, para desenvolver-se uma e outra vez. Nós somos natureza, mas ao assumirmos diversos tipos de rejeição, acedemos à nossa humanidade. Negar o ódio, sim, é negativo. Nega-se assim o que a natureza partilha livremente connosco. Florescer de cabeça erguida, como agora aqui estamos, iguais ante o mesmo sol.  

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