quinta-feira, março 19, 2015

Um dia vertical

Nestas datas tudo o que se escreva ou diga são clichés, mais ou menos, foleiros. Essa é a derradeira verdade do calendário. Mas, como foleiro orgulhoso que sou, hoje, nestas redes ilusoriamente sociais, partilho um sentimento (não sei se há um “emoticon” amarelo qualquer para isso), uma espécie de etapa de verticalidade na minha vida na qual sou neto, filho e, apesar de me continuar a parecer surreal, sou pai.
Essa verticalidade advém duma longevidade à qual estou naturalmente grato. Ou talvez não. Todos esperamos um fim, mas o meu avô está a esperar com muito sofrimento. Estava a pensar ser hipócrita e não vertê-lo em palavras. A ausência de respostas para estas coisas da moral, da biologia levam-nos à sinceridade, algo que até pode ser útil se alguém um dia quiser conhecer a nossa biografia.
Gostava que a natureza nos tratasse com dignidade e, se assim for possível, que aqueles que vêm depois de mim, um dia, sintam esta genealogia na vertical carregada de gratidão. Ilusão seria ter certezas da condicionalidade que é a vida. Apenas me resta aproveitar estas linhas, que não são nada mais que tempo, continuo, teclado letra a letra, e olhar para cima.
Vejo-te avô. Vejo-te em mim. Leal.
Vejo-te pai. Vejo-te em cada passo que dou. Em cada passada que denuncia que habitas em mim.
Vejo-me. Abaixo-me porque não gosto de olhares de cima para baixo. Perco os meus dedos no sol dos cabelos do meu filho. Coloco um ponto final nesta crónica. É o sinal que pontua que não há nada mais importante que brincar… 

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