Nestas datas tudo o que se escreva ou diga são clichés, mais
ou menos, foleiros. Essa é a derradeira verdade do calendário. Mas, como
foleiro orgulhoso que sou, hoje, nestas redes ilusoriamente sociais, partilho
um sentimento (não sei se há um “emoticon” amarelo qualquer para isso), uma
espécie de etapa de verticalidade na minha vida na qual sou neto, filho e,
apesar de me continuar a parecer surreal, sou pai.
Essa verticalidade advém duma longevidade à qual estou
naturalmente grato. Ou talvez não. Todos esperamos um fim, mas o meu avô está a
esperar com muito sofrimento. Estava a pensar ser hipócrita e não vertê-lo em
palavras. A ausência de respostas para estas coisas da moral, da biologia
levam-nos à sinceridade, algo que até pode ser útil se alguém um dia quiser
conhecer a nossa biografia.
Gostava que a natureza nos tratasse com dignidade e, se
assim for possível, que aqueles que vêm depois de mim, um dia, sintam esta
genealogia na vertical carregada de gratidão. Ilusão seria ter certezas da
condicionalidade que é a vida. Apenas me resta aproveitar estas linhas, que não
são nada mais que tempo, continuo, teclado letra a letra, e olhar para cima.
Vejo-te avô. Vejo-te em mim. Leal.
Vejo-te pai. Vejo-te em cada passo que dou. Em cada passada
que denuncia que habitas em mim.
Vejo-me. Abaixo-me porque não gosto de olhares de cima para
baixo. Perco os meus dedos no sol dos cabelos do meu filho. Coloco um ponto
final nesta crónica. É o sinal que pontua que não há nada mais importante que
brincar…
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