segunda-feira, maio 04, 2015

Poesia estimula a mente e é mais eficaz do que autoajuda

 


Isto tem, se calhar, dois anos, mas tanto faz, acho eu. Não ficou antigo! Ler poesia faz bem (desculpem aqueles que não gostam de versos nem de poemas em prosa...).

No fim do artigo, acrescento um poema de Eugénio de Andrade, para ler e para ouvir.


Poesia estimula a mente e é mais eficaz do que autoajuda

Escrevo. E pronto.
Escrevo porque preciso,
preciso porque estou tonto.
Ninguém tem nada com isso.
Escrevo porque amanhece,
E as estrelas lá no céu
Lembram letras no papel,
Quando o poema me anoitece.
A aranha tece teias.
O peixe beija e morde o que vê.
Eu escrevo apenas.
Tem que ter por quê?

Além de ser uma das formas de expressão humana, como a que aparece explorada por Paulo Leminski em “Razão de ser”, a poesia, segundo a ciência, pode ajudar mais do que livros de autoajuda, porque estimula a mente. Cerca de 30 voluntários tiveram a atividade cerebral monitorada ao lerem trechos de clássicos literários e, em seguida, as mesmas passagens foram transpassadas para uma linguagem familiar.

Especialistas em ciência, psicologia e literatura da Universidade de Liverpool constataram que essa parte do cérebro observada dispara quando o leitor se depara com expressões e palavras incomuns e, também, frases com entendimento mais complexo. O que não acontece quando o trecho lido está num vocabulário mais acessível.

Para o estudo, foram usados autores de obras clássicas, como Henry Vaughan, John Donne, Elizabeth Barrett Browning e Philip Larkin. Os estímulos sentidos pelos leitores se mantiveram durante um determinado tempo, fazendo com que a atenção na leitura fosse potencializada. Isso porque a poesia afeta o lado direito do cérebro, que é o lugar onde são armazenadas as memórias autobiográficas.

É dessa forma que esse tipo de leitura ajuda a refletir sobre as lembranças provocadas e a entendê-las por meio de novas perspectivas. Pesquisadores afirmam que a poesia auxilia esse entendimento devido a descrição profunda acerca de experiências aliada a elementos emocionais e biográficos.


(Fonte: Minas faz Ciência)


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As palavras interditas

Os navios existem, e existe o teu rosto
encostado ao rosto dos navios.
Sem nenhum destino flutuam nas cidades,
partem no vento, regressam nos rios.

Na areia branca, onde o tempo começa,
uma criança passa de costas para o mar.
Anoitece. Não há dúvida, anoitece.
É preciso partir, é preciso ficar.

Os hospitais cobrem-se de cinza.
Ondas de sombra quebram nas esquinas.
Amo-te... E entram pela janela
as primeiras luzes das colinas.

As palavras que te envio são interditas
até, meu amor, pelo halo das searas;
se alguma regressasse, nem já reconhecia
o teu nome nas suas curvas claras.

Dói-me esta água, este ar que se respira,
dói-me esta solidão de pedra escura,
estas mãos nocturnas onde aperto
os meus dias quebrados na cintura.

E a noite cresce apaixonadamente.
Nas suas margens nuas, desoladas,
cada homem tem apenas para dar
um horizonte de cidades bombardeadas.

Eugénio de Andrade 





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