[...] Serão raros os portalegrenses que não sabem que um portalegrense é um lagóia. Quase tão raros como os que não sabem o que lagóia quer realmente dizer. O apodo, ou alcunha meio afrontosa, tem provavelmente o percurso das palavras que perdem, ou ganham, alguma coisa com o tempo.
No caso parace que se perdeu um "n". Alexandre de Carvalho Costa, nos seus "Gentílicos e Apodos de Portugal Continental", recordou uma conversa com o ex-juíz de direito na cidade, Joaquim Dias Loução.
Poucos portalegrenses, ainda hoje, poderão desmentir esta hipótese publicada em edição de 1973 pela Junta Distrial de Portalegre: lagóia virá de langóia, por sua vez proveniente de langor, que mais não é que "moleza, prostração, preguiça".
O contexto: "Portalegre é cidade de há muito industrial, com fábricas que ocupam muita gente; quando por falta de matérias-primas, ou outras circunstâncias, as fábricas tinham que fechar por algum tempo, os sem-trabalho, os inactivos demoravam-se às esquinas, nas ruas, nos largos." À espera de melhores dias, continua, "dada a sua falta de hábito para os serviços do campo."
O juíz Loução rematava nunca ter percebido a desnalização do "an" de langóia. Mas um lagóia, por intuição, pode chegar lá. Na sua vocação escarninha, no gosto pelo ridículo auto-aplicado, largou-se em menor esforço o tal "n". Um processo irmão ao das alcunhas com que metodicamente se carimbam os lagóias uns aos outros (eu tenho, Portalegre), património da cidade. Ou do calão ofensivo com que se cumprimentam e divertem no dia-a-dia os melhores dos melhores amigos, em Portalegre, sem se ofenderem. [...]
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