quinta-feira, dezembro 24, 2015

No Natal odiava receber pijamas, cuecas e meias.

No Natal odiava receber pijamas, cuecas e meias.
Quem me dava roupa de cama e roupa interior já previa
que um dia dormiria nu por opção.
Ainda assim ensinou-me a utilidade.
O infantil materialismo, ingrato de falta de tacto que só os anos trazem, esquece extremidades frias porque dorme aconchegado
no amor de quem dá mais do que pode sem que se note.
A criança que era gelou na circulação periférica do passado.
Na ausência de pijamas, cuecas e meias,
ficou no sangue e na memória a generosidade.
Esta noite já não tenho quem me dê
pijamas,
cuecas
e meias.
Agradeço tão tarde ter tido
pijamas,
cuecas
e meias…
Cabe-me a mim oferecer pijamas, cuecas e meias.
Não passaremos frio
e o Natal continuará a ter alguma utilidade.

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