quinta-feira, dezembro 10, 2015

Diário: "Declaração Universal dos Direitos Humanos" e "Que o meu pai encontre um trabalho digno"

Não fazia a mínima ideia que hoje se celebra o 67º aniversário da “Declaração Universal dos Direitos Humanos”. Sei-o graças a essa enciclopédia de informações úteis (mais vezes inúteis e com gatinhos fofinhos à mistura), que são as publicações nas redes sociais, de tantos como eu. Se fosse um humano já tinha uma idade bem respeitável, como não o é nem se respeita muito a cronologia dos anos e muito menos o que se declara neste documento.

Acabei de almoçar sozinho em casa. A família está noutros afazeres. Dói-me o estômago nesta solidão de comer sem companhia e também devido ao desejo de Natal que uma aluna hoje partilhou comigo e, com tanta coragem, com toda a escola: “Que o meu pai encontre um trabalho digno”. Enquanto a ajudava a transcrever a sua intenção para o A3 dos cartazes apenas fui capaz de esconder-me na minha tristeza camuflada por palavras de optimismo.

Saí do sítio onde, felizmente, ou melhor, ainda, tenho dignidade no meu trabalho e recebo no telemóvel a notícia de que, no país onde nasci, o ordenado mínimo sobe para 530€ mensais. Claro que a este valor há que descontar a sustentabilidade obrigatória da segurança social, o que perfaz a módica quantia de 466€, mais cêntimo menos cêntimo. Ainda há que ter em conta, mesmo com tão modestos valores, o efeito de erosão salarial pelos elementos da inflação prevista para o próximo ano. Parece que são 20€ o que o rico trabalhador, nos mínimos salariais, lucrará.

Volto à intenção da minha aluna, à sua coragem que me diminui e humilda, e formulo o meu desejo, de quem acredita e vai escrever ao Pai Natal, para que todos os mandadores da despiedada finança, magnatas de condomínio fechado à realidade, políticos carreiristas e moralistas que predicam só com o exemplo de bater com a mão no peito, tenham a sorte única desde aumento e que, durante um ano, vivam dignamente com 466€ mensais.

Para que este meu desejo seja ouvido, se é que o meu comportamento é digno de ser recompensado desde a Lapónia, onde se encontra a sede da Coca-Cola, vou ainda escrever uma carta ao Menino Jesus e deixo um bilhetinho aos Reis Magos.

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