segunda-feira, janeiro 11, 2016

O Poeta Subsidiado


 Subsídio directo para versos 
será poesia estatal ou institucional?

O poeta subsidiado
encontra-se com a musa das nove às cinco.
Em horário de expediente
entregam-se a afazeres e tarefas de amantes.

(Há que ser valente
mostrar tanto afecto à frente
do patrão)

O poeta subsidiado
deixa de ser poeta nas horas livres,
de ócio,
sem o controlo do relógio
e de picar o ponto.

O poeta subsidiado
deixa de ser poeta
à porta do teatro,
no supermercado
e carregado com as compras do mês no carro.

O poeta subsidiado tem a obrigatoriedade da conta
no banco do estado.
Mas o banco do jardim confessa à passarada
que não o tem visto, nem à sua lírica
auxiliada.

O poeta subsidiado
vive dos fundos e das siglas
da literatura de candidatura.

O pedreiro que alicerça o prédio
em frente manda piropos em verso
(até que seja preso
por ter mais poesia
nas unhas cheias de cimento
que tem um qualquer poeta
inspirado
por um mecenato
pago por impostos
imposto
por uns poucos).

O poeta subsidiado
que peça ao pedreiro,
(depois um expediente carregado e nada apoiado),
que seja o seu mecenas. Que a sua poesia
lhe alivia dos tijolos a sua vida. Não o estado
armado em literato.

Se estivesse estado a um possível mecenato de:
“vai mas é ser poeta, 
ó poeta de merda!”.
Com um verdadeiro vocativo
podia ser que merecesse candidatar-se
a uma tranche de dinheiro privado
para obra sem cimento nem edifício futuro.

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