quinta-feira, fevereiro 11, 2016

Ser Homem com M maiúsculo



Ser Homem com M maiúsculo (dedicado ao meu "Duende Quinito"! Parabéns, sempre serás um exemplo para mim!

Se as conversas que tenho com os meus amigos consertassem o mundo, de certeza que, no meio de tanto paleio, já estávamos numa “Era de Aquarius”, com patrocínio de bebida isotónica, bem hidratada de justiça e igualdade.

Para bem parecer, podia enganar-vos e omitir uma tagarelice cheia de testosterona. Não oculto que tanto pode versar sobre barba feita, aparada ou por fazer, saudosismo de ver o Bruce Lee a depilar com kung-fu o Chuck Norris, dos exames à próstata do Stallone, da lealdade do Lobo Antunes ao Cardoso Pires, da filosofia de contratações do Benfica, porque é que uns estão cada vez mais conservadores (e carecas) enquanto outros cada vez mais tatuados ou continuam hippies utópicos. Escusado será dizer como a silhueta feminina nos exige o rigor e métrica do melhor soneto.

A métrica das nossas virilidades também vem à baila, tal como a sorte dum dia de festa, a inutilidade do paracetamol para a enxaqueca feminina, ou, em última instância, o passado namorado de leão num presente amansado por um Simba a saltar-nos para a cama ao mais mínimo movimento nocturno na savana. E rimo-nos. À bruta. Verbalizamos a nossa natureza orgulhosa de saber usar motoserra, estacionar à primeira, saber mudar um pneu ou de entrar em êxtase com o último grito desnecessário de bricolage do catálogo do Lidl.

Vibramos com o UFC, com o Conor McGregor, mas também com a Ronda Rousey e a Gina Carano (era giro vê-las a discutir com alguns tipos, no “octagon”, a fronteira entre o galanteio e o assédio!). Vemos telenovelas e filmes baseados em livros do Nicolas Sparks, mas só choramos quando o Rocky, com a cara feita num oito e a boca ao lado, grita: “Yo Adrien, We did it!!!”.

E dizemos palavrões como ventosidades a libertar a alma da poluição do dia-a-dia.

Negar a nossa gramática masculina, de sintaxe menos delicada, violenta mesmo, pouco rancorosa, com tantos complementos circunstanciais como o de estupidez, é negar a honradez de tantas das suas páginas. Entre o cavernícola honesto e o hipócrita progressista, não hesito em ficar com o primeiro.

Alguns dos meus amigos, quando souberam que iam ser pais de meninas, compraram uma caçadeira e legislaram o namoro só até aos seis anos! E ensinam às suas princesas que uma boa forma de manter a integridade territorial, em situação de invasão do seu reino, é um pontapé certeiro no meio das pernas do invasor (como pai de dois príncipes reforço a esperança da minha prol nunca ser merecedora de tal retaliação).

Outros amigos são também maridos e filhos de desempregadas. Há ainda alguns de nós, eu incluído, que vimos as nossas caras-metade despedidas em plena gravidez ou no “direito” da licença de maternidade...

Tenho orgulho nos meus amigos. Somos honestamente imperfeitos. Não os trocava pelas minhas colegas que acham que levar um bebé simbólico à assembleia do deputados em Espanha é falsidade privilegiada de mãe deputada e não a denuncia de um problema latente nas nossas sociedades. Não os trocava pelas minhas conhecidas que levam os filhos e filhas a colégios de ensino separado por sexo. Simplesmente não os trocava por muitas mulheres que me parecem ainda mais cavernícolas e menos sensíveis do que nós.

Lembro-me sempre de uma grande amiga que se batia um “feminismo” muito seu. Anos a fio, afirmou que todos os homens éramos uns trastes, recorrendo ao trivial dicionário do machismo disponível há séculos. Até citava Tirésias, com a sua verdade de que a mulher é mais sincera no amor. Sou alérgico a verdades absolutas e, tolerante, dizia-lhe: “olha que não somos todos assim...”. O tempo deu-me alguma razão. Uma relação menos feliz, ressabiada, encontrou conforto num homem tão estereotipado, quanto bom.

Assumirmo-nos felizes na condição rotulada de “gajos” não invalida a nossa luta pelos direitos daquelas que sempre são mais importantes do que os nossos amigos. As nossas companheiras, mães e filhas. A bondade, amigos, extrapola o género e é irmã do respeito.

Esta crónica nasceu por todos aqueles a quem não se lhes reconhecem as virtudes na redundância do estereótipo. Em especial, por um dos meus melhores amigos, com quem partilho tantas destas conversas e gargalhadas mundanas da nossa condição. Este meu amigo, bom marido, pai responsável e filho extremoso, é um ser humano que todos os dias deixa este mundo melhor. Sei-o bem, porque só um grande homem, com M maiúsculo, como o meu Rui, se levanta todos os dias para trabalhar, vai ao armário e pergunta à mulher:

- Será que hoje me visto de Minnie ou de bailarina?

E a sua Andreza responde-lhe:

- Está um bocado frio, é melhor ires de Duende Quinito!


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