quinta-feira, março 31, 2016
terça-feira, março 29, 2016
Sou neto de um analfabeto
segunda-feira, março 28, 2016
Luz de presença
O meu filho mais velho está a participar numa atividade do seu colégio chamada "Famílias Leitoras" na qual, para receber um certificado de leitor, tem de cumprir os requisitos de várias leituras livres durante os dias da semana. As suas recentes cinco primavera não lhe permitem ainda ler sílabas sozinho (está no bom caminho, não graças a mim ou à sua mãe, mas graças à Gracia, a sua professora da atividade de leitura).
Acabei de lhe ler um capítulo do "Comboio das Palavras". Dobrámos a esquina da página com carinho e esperança de amanhã continuarmos. Ficou uma luz de presença no seu quarto que ilumina as suas noites e as noites irregulares do seu irmão mais novo (ainda a aprender a dormir à Stivill).
É a única coisa que lhes posso deixar. Uma luz de presença... (e a esperança).
sábado, março 26, 2016
sexta-feira, março 25, 2016
quarta-feira, março 23, 2016
Guerra Civil (Miguel Torga)
GUERRA CIVIL
É contra mim que luto.
Não tenho outro inimigo.
O que penso,
O que sinto,
O que digo
E o que faço,
É que pede castigo
E desespera a lança no meu braço.
Absurda aliança
De criança
E adulto,
O que sou é um insulto
Ao que não sou;
E combato esse vulto
Que à traição me invadiu e me ocupou.
Infeliz com loucura e sem loucura,
Peço à vida outra vida, outra aventura,
Outro incerto destino.
Não me dou por vencido,
Nem convencido.
E agrido em mim o homem e o menino.
Miguel Torga
A vida é tempo (Vitorino Nemésio)
Com alma, ideias, tempo, luta
Componho um homem, sou sujeito:
Penso-me livre numa gruta
Como pretérito imperfeito.
De era se faz o meu futuro,
Será será o meu passado
Como da hera se faz o muro
Mais que da pedra levantado.
Se horas a nada levam tudo,
Nada nasceu, tudo é que é,
Haja ou não haja Sartre e o mundo
Deus Tudo-Nada havido em fé.
Que ele é Deus mesmo no absoluto
Ser contestado, tão assente
Que se faz Deus na voz que escuto,
Mesmo que o negue, e me desmente.
Vitorino Nemésio
O Verbo e a Morte, Lisboa, Moraes Editora, 1959, p. 22
(Blogue Folha de Poesia)
terça-feira, março 22, 2016
Bélgica, Bruxelas (Sem olhos todos somos cegos e não há rei que nos valha)
A felicidade é voltares sempre que quiseres...
É dia do pai e todos os escaparates mencionam-o da forma mais visível possível. Não é a primeira vez que escrevo sobre efemérides forçadas no calendário e é mais do mesmo.
Curiosamente, este sábado dia do pai tem sido passado em solidão de folga da responsabilidade da paternidade. Estou num dia de chuva enfiado num centro comercial e escrevo ao lado de um cartaz em forma de guru que me diz "a felicidade está nestas ofertas".
Reconheço que hoje deixei a minha coragem a 250km de distância e não me atrevo a buscar os raios de sol sem guarda-chuva. Espero a consumir. A consumir-me tempo e ideias. Penso que o tempo que gastei a trabalhar, o salário auferido com o sal dos meus dias, vale a pena ser investido num filme infantil, num disco de heavy metal, numa novela gráfica e numa revista semanal. Sou induzido a acreditar que o que trago dentro do saco passará pelo filtro das minhas lentes miopes e dos meus ouvidos cicatrizados por otites de miúdo e me enriquecerá como enriquecem os proprietários destas grandes superficies que me desumanizam com a minha autorização por escrito.
Esse sou eu. Um pai só numa tarde de sábado. Um filho que preferia estar com o seu pai. Um neto ausente da morte lenta do seu avô.
Escrevo sentado num teclado dum telemóvel inteligente e suspeito do segurança a observar-me de costas desconfiadas.
Lá fora espreitam uns raios de sol. Tenho medo. Mas vou sair deste templo em que me ajoelho para pagar o dizimo do meu tempo. Na pior das hipóteses apanharei uma molha. A relação dum homem com a chuva traiçoeira é natural... Qual será a minha natureza?
Saio da loja e o guru não me deixa ir embora sem a sua sabedoria.
- A felicidade é voltares sempre que quiseres!
domingo, março 20, 2016
sábado, março 19, 2016
sexta-feira, março 18, 2016
Sou um renegado
Entre as memórias de um chulo e uma Nobel
Naquele tempo éramos donos... (Emanuel Jorge Botelho)
das palavras,
não pagávamos tributo ao dicionário.
Naquele tempo fazíamos dos actos
factos,
ignorávamos os agiotas da decência.
Éramos dragões vomitando fogo,
lava,
origem,
trigo e
irreverência.
Éramos libertinos, libertários,
vagabundos
sentados nas sarjetas da
inocência.
Naquele tempo éramos donos
naquele tempo éramos
naquele tempo...
Emanuel Jorge Botelho
(lido no blogue da luz & da sombra)
quinta-feira, março 17, 2016
Na minha fome mando eu.
Muito se tem falado no dia de hoje duns quantos hooligans adeptos de um clube da liga holandesa e da humilhação a que submeteram os seus semelhantes na "Plaza del Sol". Não percebo porquê tanta indignação dos media, talvez porque o que se passa com os refugiados na Turquia e Grécia não abra telejornais junto com o mediatismo dos golos duma equipa qualquer.
Nunca esperei nada que melhorasse o mundo por parte destas tribos de bárbaros, muito menos quando assumem o seu estatuto acéfalo em massa sob o efeito de álcool e outros estupefacientes.
A falta de recursos, de igualdade e de oportunidades feita miséria, é já, de raíz, opressão e facilmente se lhe soma a humilhação pública.
Para quem não tem nada, dançar e fazer flexões, ser pontapeado, escarrado, etc. é algo sem importância para a sua condição. A miséria já está instalada para além do estômago e não é qualquer espírito que não sucumbe perante tal adversidade de circunstâncias.
Lembro-me de uma história que contava José Luis Sampedro sobre um jornaleiro andaluz cuja condição de miséria não suplantava a tenacidade de espírito ao enfrentar de estômago vazio a imposição do capataz com um digníssimo:
- Na minha fome mando eu!
quarta-feira, março 16, 2016
A apresentação do [33] vista pelo amigo José Kuski Vieira
A espontaneidade é a honestidade dos artistas. Sorte de quem merece a sua arte em forma de generosidade.
O mundo pequenino...
Educamos da forma que pensamos ser a mais honesta e adequada ao nossos valores, tentando que sejam de igualdade e generosidade. O mundo é tão pequenino que a única coisa que podemos fazer é deixá-lo crescer com alguma fé na bondade do ser humano. É difícil, mas eles merecem que continuemos a acreditar na Utopia, principalmente nesta Europa, velha e estéril, tão longe de se refugiar no humanismo da sua história.
terça-feira, março 15, 2016
Walt Whitman (Rubén Darío)
NO seu país de ferro vive o grande velho,
belo como um patriarca, sereno e santo.
Tem na ruga olímpica da sua glabela
algo que impera e vence com nobre encanto.
A sua alma do infinito parece espelho;
são os seus cansados ombros dignos do manto;
e com a harpa lavrada de um carvalho contíguo
como um profeta novo canta o seu canto.
Sacerdote, que alenta sopro divino
anuncia no futuro, tempo melhor.
Diz à águia: «Voa!; «Rema!», ao marinheiro,
e «Trabalha!», ao robusto trabalhador.
Assim vai esse soberbo poeta pelo seu caminho
com seu soberbo rosto de imperador!
segunda-feira, março 14, 2016
A UM POETA (Rubén Darío)
homem-montanha agrilhoado a um lírio,
que geme, forte, que pujante implora:
vítima própria no seu fatal martírio.
Hércules louco que aos pés de Onfália
a porra deixa e o lutar recusa,
herói que calça feminil sandália,
vate que esquece a vibrante musa.
Quem irritou os robustos leões,
fiando, escravo, com a frágil roca;
sem trabalho, sem estímulo, sem acções:
punhos de ferro e áspero pulso!
Não é poeta para pisar tapetes
por onde triunfam femininas danças:
que vibre raios para ferir as sombras,
que escreva versos que pareçam lanças.
Relampejando a soberba estrofe,
o seu sulco deixe resplandecente lume,
e o pântano do escândalo e da troça
que não o veja a águia no seu cume.
Bravo soldado com o seu elmo de ouro
lance o dardo que queima e desgarra,
que invista rude como investe o touro,
que crave firme como o leão a garra.
Cante valente e ao cantar trabalhe;
que ofereça carvalhos se se julga bosque
que a sua ideia no mal irrompa e desbrave
como na selva virgem o bisonte.
Que o que diga a inspirada boca
soe no povo com palavra estranha;
ruído de ondulação a açoitar a rocha,
voz de caverna e sopro de montanha.
Deixe o Sansão da Dalila o regaço:
Dalila engana e corta os cabelos.
Não perca o forte o raio do seu braço
por ser escravo de uns olhos belos.
[Maio, 1890]
domingo, março 13, 2016
sábado, março 12, 2016
sexta-feira, março 11, 2016
quinta-feira, março 10, 2016
Que Torga acompanhe Marcelo na sua mesa de cabeceira. Não encontrará melhor Conselheiro de Estado.
quarta-feira, março 09, 2016
Alarme: Bicicletas! (por Eduardo Galeano)
terça-feira, março 08, 2016
Como também acontece […] Eu roubo e roubam-me (Eduardo Galeano)
domingo, março 06, 2016
Curiosidade (Notas a caminho de Ovar, 04/03/2016)
Acompanhado por Galeano
sábado, março 05, 2016
A UM POETA (Rubén Darío)
quinta-feira, março 03, 2016
Ao meu pai.
quarta-feira, março 02, 2016
Olho negro (Ana Cássia Rebelo)
Ana Cássia Rebelo no seu blogue ana de amsterdão
terça-feira, março 01, 2016
Leocadio Mendiola
Como tantas coisas que me enriquecem, o nome, e a história, deste aviador foi-me dado a conhecer pelo bom Pedro L. Cuadrado. O Saramago, nos seus "Cadernos de Lanzarote", fez referência ao bombardeamento que este não fez à sua cidade de Badajoz. Parece que preferiu largar a bomba no campo que vitimou uma vaca. Quem sabe este bovino não matou alguma da fome que deflagrava graças à guerra civil?
Hoje descobri o seu nome e localizei a rua que merece a coragem do seu nome. Fico com vontade de voar na biografia deste homem que tantas dores de cabeça deu à Legião Condor.