Um dia estranho. Deito-me com o rádio a anunciar uma possível vitória do "sim" à União Europeia e acordo com um "não" num cenário real de "Brexit". Curiosamente a minha intuição dizia-me que isso ia acontecer.
Voo para São Miguel nos Açores e em Ponta Delgada apercebo-me que ser insular não é diferente de peninsular. Agarramo-nos ao que temos. Nós aos Pirinéus que nos colam à Europa e o povo açoriano uma língua (herdada de tanto povo por esse sul de Portugal) que o une ao continente.
"Tranquilo" foi uma das palavras que mais me disseram neste dia. Lembrei-me tantas vezes do Algarve da minha família, de pescadores e gente que vive do turismo, da Galiza com as suas hortênsias, da Holanda com as suas vacas e queijinho que me aumentam os trigliceridos. Lembrei-me que a distância não interessa, muito menos o conceito de quilómetros.
Fui à procura do Vitorino Nemésio e não o encontro em nenhuma das poucas livrarias que visito.
Fui aos Açores, a uma das suas nove Ilhas, depois de anos a pensar que talvez não fosse possível conseguir forma de poder fazê-lo.
Durmo à beira da Lagoa das Sete Cidades. Há uma neblina constante num silêncio verdejante. Por momentos, pensei que a natureza no seu esplendor se aproxima a isto. Durou pouco. À meia-noite um carro, tipo "tunning" aproximou-se da autocaravana que tenho alugada para a minha família e, com acelaradelas acéfalas e música altíssima para intimidar, me relembrou que nem no paraíso se deve baixar totalmente a guarda. Apesar da minha intuição com o "Brexit", hoje poderia ter acontecido algo grave por ter descuidado o meu instinto de sobrevivência... Tenho sorte por aprender esta lição a escrevê-la neste diário. Perdoem-me a expressão, apesar da sinceridade, com os ingleses fora da UE passo bem, mas com a minha mulher e filhos assustados (ou, nem quero imaginar, outro tipo de intenções) despertam-me um lado capaz de fazer coisas que a minha razão não escreveria aqui.
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