Em criança, se queria chorar, bastava-me pensar na morte dos meus avós. Não era que o pensamento do fim dos meus progenitores não me afetasse, sempre me deram a ilusória segurança que ali estariam, essa ideia de perenidade desactivava o melodrama. Também era criança e era bem enganado, algo que a cronologia da idade dos meus avós não me permitia estar tão seguro da igual condição mais jovem dos meus pais.
Mas o peso da ideia de fim não abandonou essa criança. No quarto ao lado dormem outras duas às quais sou incapaz de prometer céus e outros mundos. Não lhe mostro que também eu tenho as mesmas dúvidas e medos multiplicados pelo anos que vou vivendo e pelas filosofias que vou descartando.
Ganhar só existe porque se contrapõe ao perder, sabemo-lo demasiado bem. Ganhei mais um dia, mais uma entrada neste diário sem leitores, a memória dos meus avós não me faz chorar, todo o contrário, lembra-me de cuidar, estar lá, para os que de mim dependem. Ser ainda esse menino, assumir o seu medo, é a maior prova de amor que lhes posso dar. Aos que cá estão e aos que não.
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