terça-feira, agosto 02, 2016

Portado de Verão

O portado é a parte mais importante de uma casa no Alentejo. Depois, imediatamente, vem a fachada caiada a branco e com um rodapé creme ou azul.
É o portado porque, além de apoiar o pé nas boas-vindas caseiras, apoia o traseiro num contemplar de fim de tarde veraneio em que todo o dia nos pediu sombra e fresco.
Se o serão se assume simpático, vai-se lá dentro buscar uma cadeira de praia e fica-se na conversa com as vizinhas da rua. Vêem-se as crianças a brincar aos jogos sem fronteiras, fala-se sobre a última contratação do Benfica, do gazpacho do almoço e dos restos que se aproveitam para a refeição ou dia seguinte.
O Alentejo é o portado de Portugal. Há portados por outras regiões e países fora que, tal como no Alentejo, se estão a perder.
Os portados estão em vias de extinção, morrem de velhos e não se renovam. Fecham-se em casa. O convite ao diálogo, à circunstância passageira ou à autorização de entrar-se no lar de cada um, evoluiu para uma timidez física extrovertida no meio digital. As redes sociais de conversa de cadeira de praia ao serão Alentejano são cada vez mais escassas mas um autêntico prazer quando as encontras.
Ontem lembrei-me como gostava de apanhar fresco na rua, no pátio, nessas esplanadas de vontade de ar menos abafado do que em casa, ao ver os meus filhos brincarem em Vale do Pereiro, na aldeia da minha família.
Ainda se ouvia a música do último dia da festa e comia-se com a porta aberta aos que na rua passavam. Os miúdos tomavam banho no tanque e brincavam a varrer a casa.
Sentei-me no portado a falar com o Jorge. As cadeiras sairam à rua e começaram a falar umas com as outras.
Em amena cavaqueira, tive de as abandonar, sentar-me ao volante dum carro que retirou os meus filhos da brincadeira de rua e voltar para o lado de dentro do portado, onde me escondo. Aqui onde vivo, já não sou o mesmo menino do bairro. Para ser fiel aos meus, tenho de me esconder ou passar a ser o portado.

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