domingo, novembro 20, 2016

Sexualidade galáctica

Do pudor excessivo do passado, passámos a uma sexualidade de normalidade explicita. É usual verem-se conteúdos de teor sexual, material, sem resíduos de afeto, em qualquer lugar e em qualquer hora do dia.

A explicitude desta sexualidade navega pela rede sem pensar em privacidade nem futuro. A libido, de tão imediata, caí flácida em segundos. Eros substituído por euros. É possível desfrutar duma sexualidade sem nos sentirmos oprimidos pelo império da imagem, esse devastador do império dos sentidos?

Nunca conseguiria descrever bem uma relação sexual no papel. Excitar com a pena, lubrificar estranhas ou erguer falos com verbos bem escolhidos e conjugados. Quando leio sobre géneros literários, ou cinematográficos, cujo motor da intriga é o sexo, penso não ter glamour para isso, nem sombra de talento que se aproveite. 

Pode ser porque tenho uma sexualidade de revistas pornográficas dos anos 80, partilhada com os amigos do bairro, uma imaginação galáctica, de VHS, fruto do biquini da Carrie Fisher no "Regresso de Jedi", ou sinta o vazio do "fim da aventura".


Não tenho medo de partilhar o que me faz sentir maduro com os meus sentidos e desejos não ocultos a quem de direito. Tenho medo de ver que nos estão a vender, e nós a comprarmos, ser normal abdicarmos da nossa privacidade e converter a nossa sexualidade, pervertida de performance, como perfil de uma rede social de rasto perene.

E sei que esta entrada neste diário se escreveu a propósito duma visita a uma exposição do universo "Star Wars" e um encontro imediato com o biquini da minha imaginação nessas tardes de Verão em que o video só funcionava com os botões "pause", "play", "rewind" e "foward"... Estarei velho? De certeza. Conservador? Não. Não poderia. Se alguém encontrar essas k7s de video ficaria a saber, na sua fita gasta, o porquê.


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