quarta-feira, fevereiro 08, 2017

À procura de água

Desde o líquido amniótico que a nossa vida pende (e depende) para a água. Nesta era, apelidada de moderna, é raro nos apercebermos disso. Estamos cómodos nos nossos recursos diários e, na nossa latitude ibérica, não costumamos dar graças aos céus por abrir a torneira para litros de duche, para o bochechar do lavar os dentes, para a piscina onde nadamos e depois escorremos o cloro, as máquinas de lavar que consomem água invisível, o autoclismo que tocamos e multiplicamos ao longo do dia numa lista, de recursos hídricos finitos, a tender para um uso infinito.
A sede, a privação de água, é das piores e mais intensas sensações que um ser vivo pode sentir. Já a senti, sem chegar a extremos, numa subida de bicicleta até à cidade da Guarda em pleno mês agosto. Também guardo a imagem do ano da canícula, 2002 ou 2003, em que o gado pastava morto no campo.
Como os judeus, também a minha família tem uma terra prometida. A nossa Israel é uma pequena quarela de 5 hectares a sonhar ser sustentável. Não está em conflito com nenhuma Palestina, no entanto, tal qual como Israel, a água é a fonte de toda a promessa, mesmo que esta se disfarce de religião. Nós temos pouca, menos do que a que imaginávamos a jorrar dos cinco furos que lhe fizemos na pele de quartzito e outros minérios.
Ansiar e acreditar em promessas é uma forma de ir molhando a boca, hidratar o suficiente para se manter vivo o sonho de chegar a um oásis. É típico dos mamíferos esta ânsia e desidratam-se sempre mais depressa porque respiram demasiado rápido.
Os répteis fazem uma melhor gestão da sua existência com falta de água e ardem ao sol da pedra sem jamais aquecer uma gota do seu sangue frio.
Sou tão mamífero que sofro deste problema. Respiro de boca aberta e desidrato-me nestas terras quentes de Invernos de solidão. Tenho de aprender com o lagarto.

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