sábado, fevereiro 18, 2017

Boomers, Geração X, Millenials...

Conflitos geracionais, quando é que história não os teve? Principalmente a do mundo ocidental, mais propensa a negar o passado do que a assumí-lo. O oriente sempre me pareceu mais dado à síntese geracional do que nós, os de matriz europeia. Atualmente, nem sei o que pensar... vou pensando.
Li num artigo de um jornal inglês que há um conflito geracional assumido entre os «Boomers», nascidos dos destroços da segunda guerra mundial, e os «Millenials», a rapaziada nascida na viragem do milénio. Os primeiros herdaram a esperança cheia de traumas de totalitarismos dos papás, foram bebés em forma de «boom», instauraram o sistema consumista como base dum capitalismo ainda controlado pela necessidade de não cometer os erros que levaram à grande depressão. 
Os segundos, netos ou filhos tardíos dos primeiros, nasceram assistidos na segurança material dos progenitores, crentes em direitos adquiridos, casa acessível apenas na casa hipotecada dos pais, e mercado de trabalho mais flexível do que um contorcionista a trabalhar num circo cujos palhaços assumem-se políticos ao serviço duma cambada de ursos, proprietários da tenda que, vistas bem as coisas, era de todos até ter sido privatizada.
Sem costumes gregários, unicamente nos fóruns e grupos da net, os «Millenials» são os mais formados de sempre, os que tiveram o acesso à informação mais rápida de sempre, os mais inteligentes de sempre, mas pouco habituados a intervirem no mundo não virtual. Esse facto é-lhes atirado à cara pelos «Boomers» que pouco ou nada fizeram para educar o novo milénio com o exemplo, a solidariedade, a empatia. Preferiu-se a competitividade. 
No meio desta geração está, segundo este artigo, a Geração X, e, pelas características e datas imprecisas, deve ser onde o meu nascimento se insere.
Lembro-me em adolescente nos chamarem, em Portugal, «Geração Rasca». Esta memória vem aliada à de um cu ao léu numa manifestação estudantil. Associo a isso o rasca. Um cu contra o poder é um acto de coragem como se veem poucos, todos sabemos como os poderes vigentes costumam tratar o traseiro da gente... Eu nunca me atrevi e acho que não teria valor para tanto.
O «X» marcou-nos a neutralidade nesta luta entre passado e presente, um empate como no totobola. No meio está a virtude, apesar da malta não se ver como grandes virtuosos. Temos uma perspectiva do passado e do presente sem grandes saudosismos e sem soluções técnicas estilo panaceia com ligação Wi-Fi abertas para toda a gente. Vivemos alguma estabilidade climática, poluímos ingenuamente, e agora vemos que isto está tudo ligado e não é só pela Internet que podemos presumir ter democratizado ao «Boomer», com a sua conta conservadora do Facebook, e ao Instagram egocêntrico do «Millenial». Temos pouca, mas alguma virtude, de estarmos no meio de extremismos. Mas é lógico que digam que nem somos carne nem peixe. Têm razão. Gostamos da comida da avó, adoramos o vintage, levamos os nossos filhos à fast food com um brinde à mistura e adoramos gadgets e aplicações que nos facilitem a vida.
No entanto, ao ler neste jornal a equação que me põe numa geração «X», não pude ficar indiferente à minha juventude de OTL num Centro de Dia do bairro. À infância envelhecida no pátio dos meus avós. À geriatria que deixou de ser sinónimo de sabedoria para estas gerações. Foram eles que me falaram da Primeira Guerra Mundial, do Estado Novo, da Guerra Civil espanhola, do Hitler, da bomba atómica... É claro que um rasca como eu prefere dar-se com estas más companhias e acompanhá-las a casa onde sempre partilhavam a escassez do seu lar. 
Para este jornal inglês, apesar da sua monarquia representar um pouco este passado, esta geração já nem geriátrica é. Se não morreram estão a morrer. A sua memória é inconveniente. 
Agora é o preto ou o branco. O cinzento não é pertinente. É mais do que velho... é anacrónico.
Onde está esse velho poeta inglês, que se fez comando na guerra, para lutar contra o fascismo? 
Morreu novo. Não tem geração. Nascem espontaneamente como as belas flores dos campos de esperança...

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