Vivemos a enorme ilusão da estagnação. Que isto não avança ou se avança é para trás. Somos vintage, somos retro, somos saudosistas do consumo possível (frugal unicamente por circunstância), das matinés e das músicas em k7s que hoje se recordam em capas de telemóveis. Somos nostálgicos porque somos os que têm possibilidades de criar nichos de mercado.
O que há por aí de novo está convertido ao passado e é no passado que encontramos o modernismo da arte e não só. Que manifesto escreveria o Almada neste presente? Seria processado pelo Dantas? (pobre desgraçado que até nem cheirava tão mal da boca comparado com os cardeais da sua ceia).
Sei lá, abro um jornal, uma revista, um suplemento qualquer, e lá me querem vender, pela milésima vez, os anos 80, as séries da minha infância, uma estética que é esta ânsia de ser revivida que a faz estar parada no tempo.
Gosto de ouvir gente de todas as idades, mas são os jovens nesta época os representantes da artrite intelectual. É pena. Até a coragem do mancebo está colada à comodidade do aparato e mistura no mesmo tempos idos não compreendidos com uma indiferente rebeldia. Apáticos, é-lhes mais fácil irem na maré das rimas fáceis e nos mitos do «forever young» que a minha geração ouve na M80.
Gostei de ter tido uma Super Nintendo, ter brincado com GI Joes, visto centenas de VHS, ter sido sócio de clubes de video, ter andado de BMX, etc, etc, etc. Os brinquedos e as bicicletas antigas ainda me dão esse prazer infantil, mas caramba, há mais vida para além do retro, há crise mas dos problemas sai-se com criatividade.
Este é o tempo que estamos a viver. É único como todos os segundos com que convencionamos o tempo. Tenhamos nós a possibilidade de os ir vivendo com intensidade e curiosidade. A experiência de vida de outros diz-me que é quase inevitável fugir à saudade, à nostalgia do que se foi, se teve porque se sabe que se vai definhando o corpo de sentidos, num ser marcado por ausências. Porém, a malta da minha idade ainda tem alguns beneficios da biologia. Chega de tanta caderneta de cromos e vamos coleccionar nostalgias para o futuro.
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