terça-feira, maio 30, 2017

Conjugar...

Conjugar é dos actos mais determinados e, por vezes, mais difíceis que se podem ter. Conjugar uma coisa com outra, afim ou antagónica, exige determinação e um querer que tantas vezes nos levam à exaustão ou a uma realização pessoal mais completa. Quase tudo o que conjuguei até hoje levou-me mais a campos de realização, mesmo que o caminho tenha sido de exaustão. Corri por gosto e não me cansei.

Porém, este conjugar começa a ser cada vez mais pragmático do que estóico. Paro para pensar - ou não, pois quase sempre medito em movimento - e concluo que a realização pessoal cada vez mais se encontra em ter tempo, em somar – aí, sim, não me sinto escravo dum verbo - ao tempo qualidade. Este tipo de soma não acumula materialmente como estamos habituados, mas adiciona essas coisas, invisíveis aos olhos, que um aviador francês contou a adultos a quem as circunstâncias haviam subtraído a infância.

Conjugo uma vida de ritmo moderno com uma vida de ritmo campestre. Pode parecer a conjugação perfeita, e talvez o seja, mas para um homem de formação epicurista como eu, deformado por a óptica de Spinoza, confesso não estar a ser fácil para corpo e mente este conjugar.

Há anos atrás, um dos meus mais estimados amigos, o Jorge Neto, falava-me de sermos “caçadores de experiências”. Ouvia-o com entusiasmo e o horizonte era outro, vislumbrava fronteiras e vontade de cruzá-las. Estamos a vários quilómetros, e países, de distância um do outro, cada um “caçou” e “caça” experiências que conjuga com as nossas parceiras de caçada - o cônjuge, a acção substantivada na pessoa – mas o nosso tempo já não é esse, o nosso espaço já não é o quintal da casa dos meus pais e a nossa dimensão humana alberga novos seres, como os nossos filhos.

Escrever, o que vejo desde esta janela do ser, têm-me ajudado a memorizar formas de conjugar, com alguma correcção, as suas irregularidades, ajuda-me a ser flexível e a ter uma certa percepção do tempo, o que a experiência me faz ver como o mais importante do verbo…

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