A Galiza é a região que escolhemos para ser cúmplice das nossas regiões. A verdadeira pátria irmã da terra dos nossos pais, da nossa língua-mater, é o local que escolhemos para casar em comunhão com uma ideia maior que o nosso, ou talvez o meu, pensamento pode conceber. Casámos em Santiago de Compostela há já oito anos e hoje voltámos para amanhã casar outro cúmplice, um irmão que a vida, e não a minha mãe, me deu. O meu José Antonio que aqui se une à sua Camino.
Venho como testemunha de que as uniões têm tanto de amor como de casualidade. Que os caminhos se cruzam para formarem novos caminhos.
Foi a casualidade que me pariu este irmão no apartamento em cima do meu, arrendado ao mesmo senhorio, o «Señor Maneli» que agora relembro como nosso pai simbólico, pois a nossa irmandade nasceu nas suas terras, nas suas propriedades transfronteiriças.
Imerso nas minhas imperfeições, e nas minhas tamanhas contradições, dou por mim a escrever estas linhas feliz e emocionado. Em família. Em afectos. Em abraços sinceros, sem ajuizar. Pode ser um lugar-comum, é-me indiferente que o seja, ponho-me nele por comodidade e estou-me a cagar para os que julgam o meu conforto, porém encontrar um irmão em idade adulta, sem qualquer interferência do adn imposto pelos pais, ou mesmo pelo país de nascimento, não é para qualquer um. É para gajos como o José e eu, gajos que gostam um do outro porque sim, porque o mundo tanto se pode ver duma janela dum apartamento de Valencia de Alcántara, de Cáceres, de Leganés, dum banco dum qualquer jardim de Évora ou Badajoz, ou até do chão da Plaza Mayor de Madrid, onde não há arquitectura defensiva nenhuma que nos impeça de ter tanta importância para a humanidade como um «bocadillo de calamares».
Sem vagina, pénis, óvulo ou esperma em comum, tenho um irmão, uma lealdade sem hora de nascimento, que amanhã se vai casar. Também tenho dois filhos e a esperança que, um dia, a carne não determine o que eles entendam por fraternidade.
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