sexta-feira, janeiro 26, 2018

Dia do Docente (do século XXI)


Atribuiu-se-nos o dia. Bonito gesto para uma sociedade que nos atira à cara gozarmos férias de três meses, os horários fantásticos que temos e os salários bem acima da média do ordenado mínimo estabelecido, mas tão, tão, distante do que aufere um “opinion makers” formado, de certeza ("pois quem não sabe, ensina"), por outra gente e não por este colectivo que merece um dia não lectivo no calendário espanhol.

Pessoalmente, dispenso o dia livre de lecionar. Preferia trabalhar, tentar comunicar qualquer coisa útil a gente com vontade de aprender, e ver este grémio do qual faço parte ser tratado com respeito, com amabilidade, com a educação que qualquer ser humano merece.

Estás a exagerar, dir-me-ão alguns. Talvez, mas ser professor nesta sociedade, neste presente, exige ferramentas que pensava que tinha ou, se calhar, já tive. A última hora que dei, antes de desfrutar deste “Dia do Docente”, é bem elucidativa do meu exagero. Após reiterados pedidos assertivos, com reforços positivos para com a sua pessoa, avisos educados a um jovem adolescente de 14 anos para que tivesse uma atitude de respeito para comigo e para com os seus colegas, deparo-me com a fragilidade da minha condição de professor e de adulto. Se lhe fosse possível, a agressão física à minha pessoa seria uma realidade. Nem quero imaginar como reagiria. Se reagiria.

São casos isolados, dir-me-ão outros. Sim, têm razão. Porém não são totalmente isolados e têm um efeito de contágio voraz, como o tempo em que vivemos. Vêm para dentro da escola e a escola já não tem ferramentas para modelar a agressividade, quase gratuita, das gerações formadas, em rede, em banda larga, pela Internet a assumir a função de educador. Estamos a um clique de abandonar o bem senso. Mas há direitos. E há, cada vez menos, deveres. Ainda bem que há direitos, vele este pensamento pelos perecidos para que os tivéssemos. Mas há cada vez mais hipocrisia, há uma ditadura de politicamente correcto, repleta de aplausos oportunistas, que silenciam o pensamento até ao derradeiro regime do silêncio do pensamento crítico.

Nem pareces tu, digo a mim mesmo. Onde está o otimismo? A esperança de encontrar sentido no que se faz? Está ali, no que vou fazendo, na escola pública, de todos para todos. O meu mal-estar reside nesta premissa perigosa que tudo tem de ser para todos. Não. Tudo deveria de ser acessível a todos, eis um valor relativamente sólido de altruísmo. Se não se quer... há que se assumir que nem todos somos parte da solução. O altruísmo tem limites. E não me venham com falinhas mansas para superá-los!

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