quinta-feira, março 08, 2018

Na «Aula de Poesía Díez Canedo» teremos a Ana Luísa Amaral e isso promete!



Nunca entrei em questões de prestígio de género entre poeta e poetisa. Não dou demasiada importância à língua, centro-me mais na atitude da pessoa que a fala. No entanto, nunca escondi que poesia, como a esmagadora maioria das palavras verdadeiramente importantes em português e espanhol, se encontra no feminino.

Na “Aula de Poesía Díez Canedo” de Badajoz, contaremos com a Ana Luísa Amaral. A notícia não é de hoje, mas hoje, e todos os dias, vale a pena partilhar...


Nunca he entrado en cuestiones de prestigio entre poeta y poetisa. No doy demasiada importancia a la lengua, me centro más en la actitud de la persona que la habla. Sin embargo, nunca he escondido que poesía, como la aplastante mayoría de las palabras verdaderamente importantes en español y portugués, se encuentra en el femenino.

En el “Aula de Poesía Díez Canedo” de Badajoz, recibiremos a Ana Luísa Amaral. La noticia no es de hoy, pero hoy, y todos los días, merece la pena compartirla…


SENTIDOS

De vez em quando,
uma emoção em falso,
a ferida abre-se:
e eles entram solenes,
os meus mortos

Migram dos sítios quentes
onde os tenho de cor,
e as folhas do arbusto na varanda
em frente à minha cama
trazem as suas vozes

E quanto mais a luz é sobre a ferida,
mais eles aí estão

Cobre-as, às folhas,
o cortinado da janela larga,
e o que avisto daqui
é só um gume a verde,
de nem fotografia
porque em dança

Não me assustam
nem gritam, os meus mortos,
só me lembram que a chuva
que agora se insinua devagar
lhes foi tempo e morada,
e eles a mim

Que alguns deles olharam
nesta mesma varanda
as mesmas folhas,
mais jovens e mais verdes,
ou que outros deles viram outras folhas,
mais jovens, mas sem cor

Neste tempo de agora que os não tem,
aos meus mortos,
cresceram pouco as folhas,
e a emoção em que os tropeço, e a mim,
não os fazem nascer

(Tomara o lume
que as mantém em vida
fosse o gume na ferida
de os não ter)




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