terça-feira, maio 08, 2018

Fronteira




Chove e não posso resguardar-me a pensar no futuro
Da roupa ao íntimo, a água não encontra resistência

A epiderme não serve de barreira para o mundo
como este limite que cruzo quotidianamente
não me estanca imperfeições e mágoas

Sem ministério nem natureza
esta linha teima em querer definir-me
Não a posso censurar e descobri
dela não ter direito a me fartar

Nesta cicatriz onde outros olhos vêem
linhas e outros corações não sentem
os meus pontos
sei ser um foragido, um refugiado
a céu aberto

Aqui acabei por me abrigar
Na fronteira, onde tudo me quer limitar
fatigado de viver a mediar
a sensação e a razão
descanso oculto
de mim mesmo

Luis Leal
(Foto de Luis Leal, Caia, Março de 2018)

Sem comentários:

Enviar um comentário