domingo, junho 24, 2018

Diário de um auxiliar de memória

Nunca gostei de cábulas. Primeiro, porque nunca as fui capaz de fazer e, segundo, se as fazia, morria de medo de ser apanhado e da vergonha que isso acarretava. Com exceção de linguística inglesa, onde levar cábulas se tornou obrigatório pois o James assim o promovia, abandonei os auxiliares de memória ilegais nas réguas, com a tabuada ou o teorema de Pitágoras, lá para o quinto ou sexto ano.

Como adulto, e na minha profissão, vejo que as cábulas, e os cábulas, com alguma renovação e inovação tecnológica, continuam a existir e a optarem pela via rápida do acesso à boa nota final, o que me levou a presenciar a uma situação que apenas posso descrever como surreal.

Uma pessoa adulta a tentar enganar todo um conjunto de mais adultos e a inquinar um processo de concurso de altíssima responsabilidade. Foi apanhada, tal como o coxo que decide espetar petas ao pessoal, de forma rápida, desnecessária e ridícula. No entanto, como é tão comum nesta atualidade, tentou desculpar-se pondo a responsabilidade em quem o descobrira, mentindo com todos os dentes que tinha na boca.

Senti vergonha de estar ali e assistir a tal situação.  A penalização é clara e pública para uma coisa tão descarada, porém, o Sr. Goebbels, na frieza do seu carácter genocida, tinha razão: “uma mentira dita mil vezes transforma-se em verdade”. Algo me diz que pessoas assim continuarão a construir o mundo onde o bom é aquele que mente e o mau aquele que simplesmente não admite que lhe manipulem a inteligência ou lhe passem, constantemente, certificados de parvo...



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