sexta-feira, agosto 31, 2018
quinta-feira, agosto 30, 2018
Centaura (José Paulo Paes)
A moça de bicicleta
parece estar correndo
sobre um chão de nuvens.
A mecânica ardilosa
dos pedais multiplica
suas pernas de bronze.
O guidão lhe reúne
num só gesto redondo
quatro braços.
O selim trava com ela
um íntimo diálogo
de côncavos e convexos.
Em revide aos dois seios
em riste, o vento desfaz
os cabelos da moça
numa esteira de barco
– um barco chamado
Desejo onde, passageiros
de impossível viagem,
vão todos os olhos
das ruas por que passa.
José Paulo Paes
(Taquaritinga, São Paulo, 1926 – São Paulo, 1998)
terça-feira, agosto 28, 2018
segunda-feira, agosto 27, 2018
Tempo de semáforo
domingo, agosto 26, 2018
sábado, agosto 25, 2018
sexta-feira, agosto 24, 2018
quinta-feira, agosto 23, 2018
Dois poemas de Manuel Bandeira
PNEUMOTÓRAX
Febre, hemoptise, dispnéia e suores noturnos.
A vida inteira que podia ter sido e que não foi.
Tosse, tosse, tosse.
Mandou chamar o médico:
- Diga trinta e três.
- Trinta e três… trinta e três… trinta e três…
- Respire.
- O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado.
- Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?
- Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.
Manuel Bandeira
(Recife, 19 de abril de 1886 — Rio de Janeiro, 13 de outubro de 1968)
POÉTICA
Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente
protocolo e manifestações de apreço ao sr. diretor
Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário
o cunho vernáculo de um vocábulo
Abaixo os puristas
Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis
Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja fora de si mesmo.
De resto nã é lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos secretário do amante exemplar
com cem modelos de cartas e as diferentes maneiras de
agradar às mulheres, etc.
Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbados
O lirismo difícil e pungente dos bêbados
O lirismo dos clowns de Shakespeare
- Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.
quarta-feira, agosto 22, 2018
segunda-feira, agosto 20, 2018
domingo, agosto 19, 2018
Pascoaes - "O que tenho escrito em verso (mocidade)..."
sábado, agosto 18, 2018
quinta-feira, agosto 16, 2018
quarta-feira, agosto 15, 2018
«(...) Homem mais sensível a uma ética do que a uma idiologia (...)» - Miguel Torga
terça-feira, agosto 14, 2018
Da Foz a Samora uma hora e 120€
domingo, agosto 12, 2018
Hoje faria 111 anos...
Os mestres Jorge Neto e João Reis celebram a sua vida no mesmo dia que o mestre Miguel Torga. Hoje faria 111 anos. Continua connosco.
Eu celebro este dia com a estima da amizade e da admiração.
En el día que empecé a escribir en español...
En el día que empecé a escribir en español dejé de tener una única patria. Mis idiomas se fundieron en una península, cuyo amor por el inglés la agarraba al resto del mundo.
sábado, agosto 11, 2018
Crónica: "O Bom Rebelde" de Luis Leal (in "Mais Alentejo" nº144, p.64)
Crónica: "O Bom Rebelde" de Luis Leal (in "Mais Alentejo" nº144, p.64)
terça-feira, agosto 07, 2018
segunda-feira, agosto 06, 2018
domingo, agosto 05, 2018
"A criança que replica ingenuamente os nossos gestos e palavras faz-nos rir. Talvez para não nos assustar com o que o seu reflexo infantil revela sobre nós." - Jordi Doce
sábado, agosto 04, 2018
Debaixo da bicicleta do meu filho... um «mistério sagrado da existência»...
Hoje, debaixo da bicicleta do meu filho mais velho (alugada na Plaza de Hércules em Sevilha), assistimos a este gesto. Fotografei-o emocionado a lembrar-me do velho Padre Eterno e do «Melro» da sua velhice, lido em voz alta na minha juventude:
"(...) Tudo o que vive ri e canta e chora...
Tudo foi feito com o mesmo lodo,
Purificado com a mesma aurora.
Ó mistério sagrado da existência,
Só hoje te adivinho,
Ao ver que a alma tem a mesma essência
Pela dor, pelo amor, pela inocência,
Quer guarde um berço, quer proteja um ninho!
Só hoje sei que em toda a criatura,
Desde a mais bela até à mais impura,
Ou n'uma pomba ou n'uma fera brava,
Deus habita, Deus sonha, Deus murmura!..."
Guerra Junqueiro