segunda-feira, dezembro 03, 2018

Rio Maior 03/XII/2018

Estou imerso a estudar o que outros viveram e escreveram há cem anos. Estar um dia inteiro a tentar decifrar a caligrafia de Ramón por enquanto é um desafio fascinante, mas temo que uma futura falta de tempo o faça deixar de ser.
Não sei porque motivo estes autores, cuja cumplicidade estética e literária estou a investigar, começaram a escrever. O peso da modernidade, da vanguarda, por si só seria um motivo, porém o que é que despoletou nestes dois seres humanos, separados por uma fronteira, a vontade de se tornarem escritores? Outras perguntas até sou capaz de responder, mas esta não e tampouco traria nada de importante ao nosso estudo.
Hoje mesmo pensava porque motivo me agarro às palavras como uma tábua a flutuar de um naufrágio. Talvez por ler tantas citações tenda a dizer que escrevo para os meus filhos, para que eles, algum dia, saibam que tipo de homem foi o seu pai para além do progenitor rotineiro do dia-a-dia. 
Não é que exista uma fraude nessa afirmação, mas as palavras acompanham-me desde há muitíssimos mais anos do que aqueles que os meus filhos vieram à luz.
Ainda hoje, enquanto esticava as pernas no final de dia em Rio Maior e via como as luzes de Natal iluminavam o fecho do comércio da cidade, tive dificuldade em aceitar a minha solidão apesar do corpo e da alma ma solicitarem. 
Sei que houve uma época que redigia para deixar constância da minha solidão. Agora não. 
Dar uma resposta ao porquê escrevemos é fechar a porta ao exterior daquilo que somos e qualquer contestação que saia da nossa boca será apenas isso, uma delimitação. Um fecho. 
Por vezes sei, muitas vezes não e cada vez menos isso me importa.
Estudo os outros porque, desde que sei escrever, preciso de me entender a mim.

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