sexta-feira, abril 05, 2019

Alfredo

Passa-me a mão na cara
e vê como cresci menino de mim.

Passa-me a mão na cara
e vê como ela se foi para sempre
sem nunca deixar de pensar em ti,
nela e tudo aquilo que jamais vivi.

Passa-me a mão na cara
e derruba-me a máscara
imposta pela arte que nos deu vida
e nos projetou naquela noite de Verão
em que a chuva me trouxe o amor
verdadeiro pela última vez.

Passa-me a mão na cara
e sente a água das lágrimas
da criança que te salvou do fogo
com a pele enrugada de quem
acompanha o rasto do carro funerário.

Passa-me a mão na cara, Alfredo.
Sou eu, o Toto. Confessaste-te por mim
Deus e deixaste-me a eternidade em pedaços de fotogramas.

Não sei se irás para o paraíso.
Seja para onde fores,
de certeza,
alguém te deixará copiar.

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