quinta-feira, maio 23, 2019

Infinito

O meu filho mais velho questionou-me sobre o que é o infinito. Foi a semana passada e, com tanta parvoíce minha pelo meio, não o anotei como deveria.
Tem oito anos e sabe que o «oito deitado no chão» é o símbolo de algo interminável graças a um videojogo. Intui isso mesmo, que infinito não acaba, que é um jogo sem fim e disse-me, enquanto estávamos a pôr os cadeados nas nossas bicicletas:
- Papá o universo é infinito. Não acaba. Estamos a ver o universo com o Ismael.
(O Ismael é o seu professor e quem o tem acompanhado nos seus primeiros anos de primária.)
- É verdade filho.
Disse eu com toda essa certeza de pai a esconder todas as dúvidas do mundo.
- Há mais coisas infinitas papá?
Na verdade não estava à espera que a conversa continuasse, pensei que ficasse por ali, e a minha mente estava a caminho da Feira do Livro no «Paseo de San Francisco» com a mão dada ao pequenito recém-desmontado da cadeirinha.
- Sim filho, há mais coisas. Olha, por exemplo, os números.
- Porquê papi?
- Porque não acabam. Começas no um e nunca mais podes conceber uma paragem. Existe sempre uma noção de que há mais para contar...
De boca aberta, com a testa suada de ter vindo a pedalar, não pôde ficar por ali.
- Papi, e que mais há de infinito?
A verdade é que, mais uma vez, esperava que a conversa ficasse por ali, não se prolongasse num inquérito quase filosófico.
Não me lembrei de Einstein conscientemente, mas a minha espontaneidade trouxe ao de cima uma das suas máximas e respondi ao meu puto:
- Olha filho, a estupidez. A estupidez é uma coisa infinita.
A sua procura, a sua busca de entendimento de um conceito universal, acabou com gargalhadas infantis.
Infinito e eternidade são sinónimos imperfeitos. Talvez por tanta imperfeição tenha abandonado eu a sua cruzada.
Fico pelas suas gargalhadas infantis ao ver que ter um pai estúpido, por enquanto, ainda é divertido.

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