segunda-feira, agosto 31, 2020

Os meus filhos a verem-me, como vi o meu pai...

A perspectiva dos meus filhos parecida à de como via o meu pai durante a minha infância e adolescência: Desde o banco traseiro sem cinto de segurança obrigatório, ao volante do 127 por uma qualquer estrada alentejana e sem deixar-me pôr cassetes das minhas no seu rádio que tanto ecoava o Grupo de Cantares de Portel como o Cat Stevens... 
(Foto: Santiago L. P.)

La lluvia mojaba sus raíces y se sentían como árboles optimistas que agradecen el agua

[Palmyra y Lucinda] La lluvia mojaba sus raíces y se sentían como árboles optimistas que agradecen el agua.

Las dos eran árboles que enlazaban sus raíces blancas, sus piernas desangradas por la alucinación voluptuosa.

-       Estoy como una galleta mojada en té – dijo Palmyra.

Sentían, mirando los hoyos que hacía la lluvia, cosas hondas y su imaginación caía en caudalosas jarradas de esas que convierten caminos en ríos nuevos, ríos improvisados y aún sin pesca.

 

Cf. Ramón Gómez de la Serna [1923], La Quinta de Palmyra (edición y estudio crítico por Carolyn Richmond), Madrid, Espasa-Calpe, 1982, pp. 312-313.

"Safo y Erina en un Jardín en Mitilene" por Simeon Solomon

 

Malena





My Malena Minimal Movie Poster, de Chungkong Art



A nostalgia da maresia...

A nostalgia da maresia atlântica entronca numa alma coberta de musgo que, à distância, perde a esperança de manter-se verde.

terça-feira, agosto 25, 2020

«La pesadilla de Lisboa...» - Andrés Castilla (personaje principal de «El novelista» (1923) de Ramón Gómez de la Serna)

«La pesadilla de Lisboa eran sus numerosos bacalaos como ropa tendida; todos con sus hermosos números del precio como si fuesen sus iniciales. Bacalaos fuera de las tiendas y bacalaos corretones en manos del hombre cuaresmático que arrastra diez bacalaos por la empuñadura de su cola y va dejando un reguero de olor revolviente a su paso.»

Ramón Gómez de la Serna [1923], El novelista, Madrid, Espasa-Calpe, 1973, p. 206.

"Duelo a garrotazos"



Duelo a garrotazos (1820-1823), una de las "Pinturas negras" de Francisco de Goya. Para entender un poco mejor a los españoles. Qué pena, qué pena...




domingo, agosto 23, 2020

Neko

Neko: o nosso mais recente vizinho felino. Connosco, a explorar as formas e as cores de uma figueira centenária... 

sábado, agosto 22, 2020

quarta-feira, agosto 19, 2020

"Em Portalegre - Vida Regional"

 

Com 99 anos, eis uma página da Ilustração Portuguesa dedicada a esse património do Alentejo que é a cidade de Portalegre. Veja-se:

[sic] 1. e 2.- Dois curiosos tipos de cigana

3.- Na feira de Portalegre. Camponezes com os seus trajes regionaes

4.- A feira do gado tendo a cidade como fundo

"Em Portalegre - Vida Regional", Ilustração Portuguesa, nº 815, 1/X/1921, p. 228.

João Ameal, “A Entrevista da Semana: Eugénio de Castro”, ("Ilustração Portuguesa", nº 836, 25/II/1922, pp. 172-176)





João Ameal, “A Entrevista da Semana- Eugenio de Castro”, Ilustração Portuguesa, nº 836, 25/II/1922, pp. 172-176.

quinta-feira, agosto 13, 2020

"O que é que te separa da vida monástica?"

Gostam de falar de ascetismo e vidas contemplativas, de vidas diferentes às que têm e vão vendo controladas pelo relógio. Mas acabam sempre a rir pela resposta à derradeira pergunta:
- O que é que te separa a da vida monástica?
- Duas simples e redondas razão para além dum belo decote...
E, sem figueiras, nirvanas, satoris, resignação ou qualquer epifania, há paz de espírito na conversa daqueles dois amigos.

segunda-feira, agosto 10, 2020

"Lisbon Revisited" - Álvaro de Campos (1923)

À procura de outros textos na Contemporânea do José Pacheko, cruzo-me com este original pessoano que conheci através das páginas dos manuais escolares do secundário e dos estudos de intertextualidade com o "Cântico Negro" do amigo Régio.

Cf. Álvaro de Campos, “Lisbon Revisited”, Contemporânea, nº8, Fevereiro de 1923, p. 92.



 

domingo, agosto 09, 2020

Sara Portela




Duas fotografias da fotógrafa portuguesa Sara Portela.







sexta-feira, agosto 07, 2020

Parker

Já estava na papelaria há uns cinco minutos, a fotocopiar mais umas páginas de um capítulo para corrigir, quando o vejo chegar, devagar, com alguma dificuldade a caminhar e com o andarilho a ocupar toda a entrada do estabelecimento.
Se vivessemos numa época menos mascarada e medrosa, ter-me-ia aproximado e ajudado a subir aqueles três degraus, mas este vírus afasta-nos físicamente convertendo qualquer um numa potêncial ameaça.
Ficámos pelo cumprimento: «buenos días».
Notava-se que era conhecido do estabelecimento (agora só com um funcionário, creio que é o dono) e foi rapidamente atendido. 
«Dame un bolígrafo, por favor», disse, necessitado tanto do utensílio de escrita, como da mobilidade perdida com os anos.
«¿Qué te parece este? Cuesta 6€.»
Não era uma vulgar caneta bic, ou uma dessas esferográficas utilitárias de usar e deitar fora como as que tenho acumulado ao longo dos anos. Era uma Parker. Das mais básicas, mas era uma Parker.
«Me parece bien, trae para acá.» E o funcionário, de passagem entre a vitrine e a fotocopiadora onde saíam as minhas páginas, deu a Parker ao senhor idoso que, antes de experimentar a sua caligrafia octogenária, a experimentou no bolso da camisa e exclamou: «perfecto».
Pagou com moedas e acho que teve um desconto, coisa que eu não tive, porém que não me apoquentou. 
Uma caneta já pouco ou nada significa para os nossos dias e a caligrafia é uma coisa de primária e de apontamentos para supermercado, isto é, para algum antiquado, como eu, que escreva uma lista com o que faz falta para casa.
Apesar de também ter camisa, a minha não tinha bolso e não poderia fazer-me acompanhar de tão ilustre companhia.
Saiu antes das cópias estarem prontas e aquele velho homem, apontado na minha memória sem recurso a esferográfica, saiu mais ágil, rejuvenescido, amparado agora por algo mais do que o seu andarilho.

quinta-feira, agosto 06, 2020

Diário esforçado de um dia de preguiça... (Para os meus filhos)

Tenho dificuldade em lidar com a preguiça, com a apatia, com o “deixa andar”.  Sei que os meus filhos são vítimas desta minha faceta, desse meu desprezo (a roçar o ódio, admito) pela falta de um esforço mínimo, típico de quem está à espera que venha alguém fazer por ele.

 

Parte do que sou forjou-se assim, a trabalhar, a esforçar-se por conseguir o que quer que fosse. Exemplos de esforço (muitos deles invisíveis de tanta discrição) não me faltaram e não me faltam, apesar da escassez de reconhecimento.

 

Alguns podem ver um peso nesse legado (admito determinismo psicológico), mas eu vejo dignidade e orgulho-me disso, pois tem sido através do esforço ensinado que consigo muitas vezes chegar à conclusão que não merece a pena esforçar-me mais. É um paradoxo, porém, quantas coisas da vida se aprendem através das suas contradições? Parece-me que muitas e não é preciso esforçarmo-nos, temo-las em frente do nariz e a máscara destes dias só oculta a visão a quem quer.

 

É verdade, a falta de esforço com frequência dá a mão à falta de responsabilidade. E se lhe somarmos uma personalidade centrada em si mesma, a aritmética torna-se explosiva.

 

Lá fora ainda não estão a cair bombas para recuperar a indústria do armamento (o que aconteceu em Beirute e as declarações do execrável Trump preocupam-me), mas há por aí bombas-relógio de irresponsabilidade de todos os tipos. Jovens e menos jovens, adultos e adultas (não se me acuse de falta de “inclusividade”) e algum idoso senil que por aí ande a par da sua altíssima probabilidade de acabar nos cuidados intensivos.

 

Se custa usar a máscara e manter uma certa distância física, se com este pequeno esforço a sociedade se comporta com um “deixa andar”, como será se a coisa piora e tem de passar fome? O smartphone não se come e as selfies só alimentam o ego...

 

Custa-me lidar com esta gente que não faz um mínimo esforço para que a nossa saída à rua tenha um pouco mais de segurança. Custa-me ver grupos de adolescentes sem máscara e com muitíssimo contacto físico quando eu exijo ao meus (inclusivamente ao que por lei não a necessita usar) para porem sempre a máscara e se distanciarem das pessoas para todos podermos avançar nestes tempos com alguma quotidianidade.

 

Os danos colaterais desta falta de solidariedade são mais do que evidentes na sociedade e pouco tocam as elites, protegidas ao longo dos tempos pelo seu status e pelo acesso ao conhecimento. O resto protege-se com o bom senso até chocar com a falta de bom senso dos outros, por mais que se isole e se lhes diga que o vírus que aí anda é invisível. Eu vejo-o bem e sou míope.

 

Como vejo os adolescentes que se estão a cagar para os pais e avós, como vejo os políticos a não reconhecerem ser primordial o entendimento e só depois a ideologia, como vejo os empregos a desaparecerem e os negócios a fecharem, como vejo a natureza agónica agora também a sufocar com lixo do que nos protege do vírus, como vejo esta mínima falta de esforço que vai acabar por clamar por mão dura, repressão e, como tantas vezes me lembro, aplaudiremos enquanto vai desaparecendo a liberdade.

 

Para sobreviver a maioria não necessita de liberdade, isso é coisa de minorias.

 

Os meus filhos talvez me perdoem quando forem mais velhos e entenderam o seu pai irascível quando lhes entrava a preguiça aguda. Se não me perdoarem, têm de se aguentar, como eu, com um legado de livros e enxada que lhe foi imposto e que conscientemente quero carregar...

 

Filhos, se algum dia lerem este diário, tudo se resume a uma frase: o vosso pai, se queria ser minimamente livre, tinha de se esforçar.

segunda-feira, agosto 03, 2020

A nossa ignorância pode ser dividida...

Noah Chomsky disse que a nossa ignorância «podia ser dividida em problemas e mistérios». Li esta citação num livro sobre inteligência artificial com mais de 20 anos e fiquei com a sensação de faltar mais algum divisor nesta operação do velho pensador. Não sei qual proporia, mas lembro-me da velha discussão que tenho tido com alguém que me educou devido a uma pretensa condescendência para com a ignorância auto-promovida, isto é, o perpetuar da falta de curiosidade e justificá-la como algo positivo e motivo, inclusivamente, de orgulho.
É livre para pensar assim. Eu recuso orgulhar-me de qualquer «ignorância autoinflingida». Já basta a que nos impõem agentes externos ao nosso «eu»...
Não tenho problemas com a minha ignorância, pois não é um mistério para mim, aceito-a e se puder assomar-me a algum conhecimento fico contente e, muitas vezes, grato. O que não admito é que queiram fazer de mim mais ignorante do que realmente sou... 

sábado, agosto 01, 2020

"En Clave de Budô - El Ritual de Resistir" - Luis Leal (in "Shibumi", nº3)



Luis Leal, "En Clave de Budô - El Ritual de Resistir", Revista Shibumi, Julio, 2020, pp. 26-29.