sábado, junho 12, 2021

Cheira a terra...

O calor, chegado de golpe há uns dias, trouxe hoje trovoada. Lá fora caíram umas gotas frias que levaram a terra a exalar o seu cheiro. A superstição impede-me de exclamar em voz alta "cheira a terra molhada". Tenho poucas (o pão de cabeça para cima, os chinelos arrumados ao fundo da cama, só contar um sonho depois de comer, abrir guarda-chuvas só na rua e não me lembro de mais), mas sei que esta foi herdada da companhia do meu cunhado Francisco no final da minha adolescência, pois, segundo os seus próprios temores, invocar o odor húmido do solo nú é chamar a morte. 
Ao olhar pela janela, os tons da tarde entristeceram, não são terroríficos nem fantasmagóricos, porém parecem propícios a um qualquer fim, a umas lágrimas que não me apetece derramar. Só espero que a morte não decida sair à rua num dia assim.

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