sexta-feira, novembro 01, 2024

“O Bairro do Poço Entre Vinhas” (2023)

1/XI/2024 No fim-de-semana passado, os meus pais deram-me este livro sobre o qual ainda não tinha podido escrever. Ao contrário deles, principalmente do meu pai, não sou da geração de “O Bairro do Poço Entre Vinhas” sou da geração da “Senhora da Saúde”, contudo reconheço-me na toponímia e no carinho com que o autor, Fernando Morgadinho Nunes, recopilou tanta informação sobre, em palavras do próprio, “um bairro, um povo, um querer”.

Olho para esta publicação, com o apoio da União de Freguesias correspondente, e encontro muito do que hoje se pode ver na minha maneira de pensar, reagir e comportar-me. Quando se é de um bairro como este, talvez a noção de rural e urbano tenda a esbater-se (admito inclusivamente a ideia de nação) porque se impõe a vizinhança, o colectivo, um sentido de classe social (apesar de hoje em dia já não quererem que se fale disso), isto é, gente humilde, trabalhadora e católica. 

O catolicismo que conheci neste bairro efervescia juventude, era solidário e não sectário, albergava dentro da sua capelinha tanto o progressismo, com ecos de teoria da libertação, como o conservadorismo de velhos costumes a desconfiar da aurora de Abril. Conforme ia crescendo, ficando adulto, passando as suas fronteiras, sabia que o bairro envelhecia. Não me deixo enganar pela passagem do tempo, nem pela erosão da memória, é maioritariamente neste bairro onde encontro as origens do que vou sendo e fazendo. Neste bairro foi-me dado um sentido de ser e estar, encontrei a poesia dos que menos tinham, identifiquei os perigos e a obscuridade que existe em cada um de nós, como também a alegria, a dignidade, a solidariedade e um sentido de comunidade que para alguns, actualmente, é como a rua da minha infância, pura saudade.

Os meus pais talvez pensassem que, com esta lembrança, me levassem de regresso ao nosso bairro. Agradeço-lhes, mas a realidade é que, e talvez alguns de vós me compreendais, a ele retorno com muita frequência, principalmente em sonhos. 

1/XI/2024 El fin de semana pasado, mis padres me dieron este libro sobre el cual aún no había podido escribir. A diferencia de ellos, principalmente de mi padre, no soy de la generación de “El Barrio del Pozo Entre Viñas”, soy de la generación de “La Señora de la Salud”, sin embargo, me reconozco en la toponimia y en el cariño con el que el autor, Fernando Morgadinho Nunes, recopiló tanta información sobre, en palabras del propio autor, “un barrio, un pueblo, un querer”.

Contemplo esta publicación, con el apoyo de la Unión de “Freguesias” correspondiente, y encuentro mucho de lo que hoy se puede ver en mi manera de pensar, reaccionar y comportarme. Cuando se es de un barrio como este, quizás la noción de rural y urbano tienda a difuminarse (admito incluso la idea de nación) porque se impone la vecindad, el colectivo, un sentido de clase social (a pesar de que hoy en día ya no quieran que se hable de eso), es decir, gente humilde, trabajadora y católica.

El catolicismo que conocí en este barrio efervescia juventud, era solidario y no sectario, albergaba dentro de su capillita tanto el progresismo, con ecos de la teoría de la liberación, como el conservadurismo de viejos costumbres que desconfiaban del amanecer de Abril. A medida que fui creciendo, haciéndome adulto, cruzando sus fronteras, sabía que el barrio envejecía. No me dejo engañar por el paso del tiempo, ni por la erosión de la memoria, es mayoritariamente en este barrio donde encuentro los orígenes de lo que voy siendo y haciendo. En este barrio se me dio un sentido de ser y estar, encontré la poesía de los que menos tenían, identifiqué los peligros y la oscuridad que existe en cada uno de nosotros, así como la alegría, la dignidad, la solidaridad y un sentido de comunidad que, para algunos, actualmente, es como la calle de mi infancia, pura “saudade”. 

Mis padres quizás pensasen que, con este recuerdo, me llevarían de regreso a nuestro barrio. Les agradezco, pero la realidad es que, y quizás algunos de vosotros me comprendáis, vuelvo a él con mucha frecuencia, principalmente en sueños.







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