segunda-feira, setembro 27, 2010

“Abrazos”


Há já sete anos que a cidade “extremenha” de Cáceres está embrenhada no projecto de elevar este município património mundial da UNESCO a Capital Europeia da Cultura em 2016. E foi assim que culminou, na passada segunda-feira 27 de Setembro, com apresentação do projecto perante um júri no Centro de Arte Rainha Sofia na capital madrilena.
A decisão ainda não faz parte do domínio público, dado que ainda haverão mais apresentações de outras cidades espanholas, como Burgos, Alcalá de Henares, entre outras, mas o Presidente da Junta da Extremadura já exprimiu a sua satisfação ao afirmar que “pôs-se de manifesto o que queríamos, que se trata de um projecto colectivo, de uma cidade que tem uma região por detrás, de pessoas, de homens e mulheres que estão implicados nele”.
As palavras do representante máximo político da região vizinha espelham uma iniciativa que, de acordo com dados oficiais, teria um orçamento de 60 milhões de euros, sendo que 60% seriam de fundo públicos e o restante de investimento privado, algo que, tendo em conta os investimentos públicos em cultura em época de crise, é de louvar ou estranhar!
Mas este projecto, aqui tão perto, mas ao mesmo tempo tão longe e camuflado com outras questões que são mais apelativas nos jornais regionais e nacionais, tem como principal argumento a vocação “cacereña” para “abraçar” a cultura dessa realidade além atlântica que é a iberoamérica (tão mal apelidada, por antigos interesses coloniais francófonos, de “América Latina”!).
Este abraço, literal na exposição pública da iniciativa (já que cada vez que um membro do comité de apresentação se dirigia a expor os argumentos “pró-Cáceres” dava um abraço ao membro que o antecedia), também não descurou a vocação europeísta, revisitada na figura do imperador Carlos V, de acordo com a “Alcaldeza cacereña”, e numa apresentação poliglota, cujo conteúdo foi narrado e defendido nos ilustres idiomas de Cervantes, Shakespeare, Goethe, Baudelaire, Chopin, Ionesco e Camões. Pena que ao alto dignitário da Junta da Extremadura calhou o francês, apesar da sua íntima relação com a localidade que o trouxe ao mundo, “a neta de Portugal e filha de Espanha”, Olivença.
Desconheço se existiu algum apoio institucional do lado de cá da raia portuguesa, no entanto, sempre que existem iniciativas desta envergadura (claro que não são tão visíveis como as que estão relacionadas com o futebol e os estádios!) as regiões limítrofes ficam sempre a beneficiar com boas iniciativas que podem ser contagiantes…
A meu ver, uma vez que sinto essa região, do lado de lá da fronteira, um pouco como o meu Alentejo, espero que 2016 seja o ano de Cáceres (que, para os mais desatentos, está a apenas a 95 quilómetros de distância de Badajoz), de uma Extremadura “culturalmente mais visível”, e, quem sabe, algumas cidades da nossa região possam aprender algo com os sete anos que este projecto persistiu até que se concretizasse.

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