É rara a adaptação, cover ou “remake” que supera o original, e no que diz respeito ao cinema norte-americano ainda pior. Poder-se-ia fazer uma lista de adaptações e “remakes” falhados, alguns até com bons realizadores por trás, como é o caso de Cameron Crowe.
Há quase uma década, em 2001, que foi lançado “Vanilla Sky”, adaptado do original de Alejandro Aménebar “Abre los Ojos”, desta feito com um desfigurado Cruise e não o espanhol, talentosíssimo, Eduardo Noriega (dado a conhecer em “Tesis” do mesmo relaizador).
Recordo-me perfeitamente de ter visto ambos os filmes na mesma época, creio que a versão de Crowe primeiro, e de ter ficado com a impressão de que Hollywood se apropria de ideias brilhantes e, simplesmente, num afã de lucro lhe tira todo o brilho. Claro que na época não tinha o mínimo distanciamento, e discernimento, temporal que hoje nos permite uma análise mais clara e menos preconceituosa.
Esse preconceito, fez-me esquecer que Crowe não é o típico realizador de “blockbusters” e que tem uma qualidade que sempre apreciei no cinema (talvez a tenha apreciado pela primeira vez pela mão de Tarantino, sem me aperceber que fora antes ainda, sob a batuta de Sérgio Leone), a escolha acertada da banda sonora.
Escolher uma canção para sonorizar uma imagem vai para além dos acordes, dá-lhe cor, confere-lhe ritmo e identidade, por vezes torna-a cúmplice de quem a vê. Para mim, a imagem e o som certo conjugam-se harmoniosamente numa gramática e sintaxe de histórias com as quais mergulhamos no verdadeiro entretenimento… pensar por prazer, quando tantas vezes não nos apetece.
O “zapping” tem, inerente a si, o acaso e, este fim-de-semana, deparei-me, quase dez anos depois, com um “Vanilla Sky” que me agradou, que me fez pensar em sequências e consequências da sétima arte. Também me reportou para Dylan, REM e Sigür Rós que acompanharam uma certa época que vivi…
Em suma, despertou-me para uma estética, que lhe confere cor e título, que passou despercebida pela sombra da ideia de Aménebar e que, hoje, volvidos estes anos, me faz pensar que dotar histórias já contadas de “roupa nova” nem sempre é mau… se tenho meios para melhorar uma narrativa porque não usá-los? Em outros âmbitos esta questão nem sequer se põe, mas no cinema americano a intelectualidade nunca deixa passar isso em claro… Será por isso que Kubrick nunca ganhou nenhum Óscar?
Tem graça falares nisso porque tenho apenas um filme de Crowe na minha dvdteca mas várias bandas sonoras de filmes dele. Quanto a Amenábar, tenho o Tesis em atraso até porque nestas férias conheci um hermano mo recomendou muito.
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