quinta-feira, dezembro 27, 2012

E verás o revés Anteu


A tua alma cansada de titã
Não pode, não quererá
Tocar mais
Esse materno solo... 
Uma vez no ar, hercúleo será o teu ostracismo. 


XXVII - XXII - MMXXII

domingo, dezembro 23, 2012

"Mas que Fresca Mondadeira" - Teresa Silva de Carvalho




Que belo poema! Eis o meu Alentejo numa das vozes mais bonitas (e esquecidas) que a música popular portuguesa tem. Do disco de 1977 "Ó Rama, Ó que Linda Rama" de Teresa Silva Carvalho que o nosso amigo Pedro me emprestou.
Este post é dedicado a ele e ao meu primo Luis Neves que, de certeza, também sente esta canção como nós.
Um forte abraço.

From my window...

Diary of the bird's crisis

From my window
I see birds.
But they don´t fly.
Why?
Maybe,
They are too afraid
to believe in their
future.

December, 2012.

"Merry Christmas" com muitos momentos Kodak


Boas Festas para todos!
¡Felices Fiestas para todos!
Merry Christmas to you all!


Não sei o nome, sei que é uma foto de Sandra Marisa Monteiro dos Santos

Na net, enquanto navegava à procura de informação, cruzei-me com esta foto de Sandra Marisa Monteiro dos Santos sobre o Caminho de Santiago. Tomei apenas a "dupla liberdade" de a publicar e fazer um pequeno "crop" para a centrar nesta tríade tão peculiar: aquele que caminha e a inactividade activa dos felinos ao sol.
Esta foto aqueceu-me num frio dia. Vitamina D através de pixeis. Parabéns cara Sandra.

Olha o passarinho!


Uma fotografia de 1932 do fotógrafo alemão August Sander.



quarta-feira, dezembro 19, 2012

A raiz mais profunda do afecto da qual jamais nos separaremos

Hoje, há momentos, estive na festa de Natal do meu filho. Os seus dois anos alegremente dançavam ao som do pop natalício importado da terra dos Saxões.
Estava feliz, está feliz. Sei que é inocentemente feliz.
Iniciámos a nossa história de família, avô.
Estou longe.
Custa-me não poder dizer-te que o vejo crescer assim.
Custa-me saber que estás aí e eu aqui, sem te dar notícias do nosso Benfica e do meu Real Madrid. Estou desatualizado.
Sabes que o sobreiro foi considerado árvore nacional? Também eu me ri. É o mesmo que considerarem um alentejano património da humanidade!
Tu és o meu património. Sê-lo-ei de alguém?
Não. É melhor não sê-lo.



terça-feira, dezembro 18, 2012

Geografia das Amizades - Gonçalo Cadilhe (Novembro de 2012)



Gostei particularmente desta crónica. Tinha-a aqui guardada para a "postar" aqui nos "senderos". Mais um pequeno prazer, desta feita pela "pena" do jornalista "turista" Gonçalo Cadilhe. Só por isto vale a pena comprar a revista "Visão"...
Ah, e por causa do J.L. Peixoto, do Lobo Antunes, do José Gil, do Gonçalo M. Tavares, do Boaventura Sousa Santos...
Aquele abraço e boa noite. Estou cansado. Mas era capaz de ir até ao Japão... ou não...

segunda-feira, dezembro 17, 2012

O dia seguinte a uma tragédia

Depois de um dia com a noticia de um massacre tão brutal e inexplicável , o que pensar da nossa condição humana...
O que dizer ou explicar no dia a seguir de um crime tão horrivel, e que nos deixa sem saber o que explicar às crianças. Como o mundo se está a transformar num mundo Insano...
Como não sei o que dizer perante um acto tão odioso e tresloucado , ...
só posso prestar a minha homenagem a quem não teve mais tempo para continuar a viver. homenagear quem está a sofrer a perda das suas crianças.
As mais sentidas palavras para todos os familiares das crianças que morreram a semana passada na cidade de Newton. Uma tragédia que toca a toda a humanidade.
E esperar que se consiga evitar mais tragédias como esta ...


Ficam aqui algumas pequenas palavras de Mahatma Ghandi

"A lei de ouro do comportamento é a tolerância mútua, já que nunca pensaremos todos da mesma maneira, já que nunca veremos senão uma parte da verdade e sob ângulos diversos."
"Viva como se fosse morrer amanhã"
"aprenda como se fosse viver para sempre"Ghandi
À DESCOBERTA DO AMOR
Ensaia um sorriso
e oferece-o a quem não teve nenhum.
Agarra um raio de sol
e desprende-o onde houver noite.
Descobre uma nascente
e nela limpa quem vive na lama.
Toma uma lágrima
e pousa-a em quem nunca chorou.
Ganha coragem
e dá-a a quem não sabe lutar.
Inventa a vida
e conta-a a quem nada compreende.
Enche-te de esperança
e vive á sua luz.
Enriquece-te de bondade
e oferece-a a quem não sabe dar.
Vive com amor
e fá-lo conhecer ao Mundo.


Ghandi

domingo, dezembro 16, 2012

Praça do Sertório - Évora, 2010

Numa manhã qualquer. Estava sol. Mas eu via-o a preto e branco. Sabe-se lá porquê?

Os clássicos e a gravata (P/B) - Foto: Revista Sábado

Foto da revista Sábado, numa reportagem sobre o "ministro Dr. Relvas", que para aqui editei e decidi partilhar. Obviamente que as figuras centrais são os clássicos...
Cuidado. A ver o Relvas não nos fecha o blog.
Pode ser que esteja entretido com a RTP...

Bicicletas e mais de alexanderer









La buena educación


alexanderer é  chileno e faz desenhos como estes.


quarta-feira, dezembro 12, 2012

Meu Querido Corto Maltese - Filipa Pais


Na voz, busco a força anseios
No mar, a brisa e a calmaria
Não vejo porquê
Nele encontrar só tormentas
Se ele é o caminho
Que abranda as minhas contendas
Já fui, pra lá de toda a tristeza
Ao fundo, mais longe que a solidão
Por ele voltei, na barca dos meus encantos
Com ele afastei de mim, má sina e prantos
Voltei ao meu porto de abrigo
Baixei velas, lancei ferros
(que saudade do teu olhar)
Busquei, estavas na mesa do canto
Copo de vinho à espera
Da aventura sempre à mão
Trazias no peito uma flor
E um coração ditoso
Pois quem volta traz sempre feridas
Da guerra da luta contra os elementos
Mas teu colo morno eterno
Sempre me vai acolher
É tarde, estou cansada vou ficar
Se as ondas forem perfeitas
E o vento, a lua não me chamarem

O Poeta em Lisboa - António José Forte

Quatro horas da tarde.
O poeta sai de casa com uma aranha nos cabelos.
Tem febre. Arde.
E a falta de cigarros faz-lhe os olhos mais belos.

Segue por esta, por aquela rua
sem pressa de chegar seja onde for.
Pára. Continua.
E olha a multidão, suavemente, com horror.

Entra no café.
Abre um livro fantástico, impossível.
Mas não lê.
Trabalha - numa música secreta, inaudível.

Pede um cigarro. Fuma.
Labaredas loucas saem-lhe da garganta.
Da bruma
espreita-o uma mulher nua, branca, branca.

Fuma mais. Outra vez.
E atira um braço decepado para a mesa.
Não pensa no fim do mês.
A noite é a sua única certeza.

Sai de novo para o mundo.
Fechada à chave a humanidade janta.
Livre, vagabundo
dói-lhe um sorriso nos lábios. Canta.

Sonâmbulo, magnífico
segue de esquina em esquina com um fantasma ao lado.
Um luar terrífico
vela o seu passo transtornado.

Seis da madrugada.
A luz do dia tenta apunhalá-lo de surpresa.
Defende-se à dentada
da vida proletária, aristocrática, burguesa.

Febre alta, violenta
e dois olhos terríveis, extraordinários, belos.
Fiel, atenta
a aranha leva-o para a cama arrastado pelos cabelos.

António José Forte

sexta-feira, dezembro 07, 2012

"Vincent e Jules" - Um cartoon que fotografei em Leiria em 2008...

Peço desculpa ao autor deste cartoon, que fotografei há já quase 5 anos em Leiria, mas não me recordo do seu nome... A sua obra, e a referência a esta obra-prima de Tarantino, sim ficou gravada no meu telemóvel na época.
Agora sai do baú digital, em honra de Vincent Vega e Jules Winnfield...
Bom fim-de-semana!

quarta-feira, dezembro 05, 2012

A Definição de Filho... segundo consta na web de José Saramago

“Filho é um ser que nos foi emprestado para um curso intensivo de como amar alguém além de nós mesmos, de como mudar nossos piores defeitos para darmos os melhores exemplos e de aprendermos a ter coragem. Isto mesmo ! Ser pai ou mãe é o maior ato de coragem que alguém pode ter, porque é se expor a todo tipo de dor, principalmente da incerteza de estar agindo corretamente e do medo de perder algo tão amado. Perder? Como? Não é nosso, recordam-se? Foi apenas um empréstimo”.

Não me Peçam Razões...

Não me peçam razões, que não as tenho, 
Ou darei quantas queiram: bem sabemos 
Que razões são palavras, todas nascem 
Da mansa hipocrisia que aprendemos. 

Não me peçam razões por que se entenda 
A força de maré que me enche o peito, 
Este estar mal no mundo e nesta lei: 
Não fiz a lei e o mundo não aceito. 

Não me peçam razões, ou que as desculpe, 
Deste modo de amar e destruir: 
Quando a noite é de mais é que amanhece 
A cor de primavera que há-de vir. 

José Saramago, in "Os Poemas Possíveis"

segunda-feira, dezembro 03, 2012

Cine - fiesta 2012     Mostra de Cinema Espanhol
em Lisboa e Porto
fui ver este filme de animação Arrugas


CineFiesta Arrugas
http://www.cinefiesta.pt/portfolio/arrugas-lx/

Un Zoo en Invierno - Jiro Taniguchi

 Hace ya unos siete u ocho años que empecé a guardar reflexiones aquí en este blog de amigos y uno de los primeros "posts" fue dedicado a uno de mis autores de manga favoritos: Jiro Taniguchi.
Hace poco, gracias a la afición que tengo al "Hombre que Camina", me he comprado su obra "Un Zoo en Invierno" y me ha gustado bastante. Sin embargo, lejos del ambiente "zen" de la obra que lo hizo famoso, es una obra autobiográfica con bastante calidad gráfica y histórica. La componente introspectiva esa si la vemos en cada página... una característica de Taniguchi y de su pueblo nipónico. 


"Y yo volvía a quedarme solo".

El Arte de Volar - Antonio Altarriba y Kim

Conversando con mi amigo Pablo Calvo, me he enterado por la primera vez de la existencia de este cómic estupendo (Premio Nacional de España en 2010). Por suerte, Pablo lo ha recomendado para la biblioteca de nuestro centro y ahí lo tenemos disponible para cualquiera que lo quiera leer.
No me he quedado indiferente a esta historia de vida, este sentimiento de empatía me persigue siempre que pienso en la existencia del padre de Antonio, su lazo de sangre con su hijo, sus sueños, sus frustraciones y las "ganas de volar" para un final más digno... me da mucho que pensar como nieto, hijo, padre...
Jorge Palma, el famoso contautor portugués,  tiene una canción que termina de la misma manera: "Abriu a janela e voou..."

Sin ninguna duda, os recomiendo "un paseo" por este cómic. Preparaos, no es de fácil lectura si os sentís demasiado afectados por la gravedad de los tiempos del presente que, en la realidad, son un anacronismo que nos persigue...


domingo, dezembro 02, 2012

"Picture" - Uma recordação dos cinemas "Alfa" de Évora

Antes do digital, o cinema chegava-nos assim, em película. Este é o trailer de "O Último Contrato". Uma recordação dos cinemas Alfa em Évora, da cabine de projecção e dos meus bons amigos Pacó e Zezinha...
Não era o "Cinema Paraíso", mas não estava longe... aí entrei em criança, fui adolescente, jovem adulto e já a saber o que era a vida vi-os a fechar sem alternativa.
Um garrote à cultura que ainda teimava em persistir na cidade que me viu nascer.
Há muito que não presto atenção a essas notícias, mas acho que Évora continua sem cinema... talvez triste... talvez resignada... Mas aqueles que crescemos com o "Alfa 1" e o "Alfa 2" ninguém nos tira essa boa memória... aí não chegam os políticos... Aí, mesmo que queiram, negamos-lhe a ordem de clausura!
Boa noite minha cidade...

El futuro de un país, literalmente, en un tendedero.


El futuro de un país, literalmente, en un tendedero.  Hay que lavar, secar y volver a usar.
Escuela pública, el futuro de un país más igualitario. Creo que parafraseando a Churchill: “No es perfecto, pero es el más justo”.
No somos todos iguales, pero todos debemos de tener las mismas oportunidades.
La educación es una inversión, cuyo ánimo de lucro es una sociedad más justa y sostenible. Para eso no hace falta regalar 1000€ por alumno, hay otras maneras…
¡Imaginación al poder! Es una sugerencia...

sábado, dezembro 01, 2012

quinta-feira, novembro 29, 2012

La dureza de la piedra sólo el agua lo comprende.


La dureza de la piedra sólo el agua lo comprende.
Su secreto se comparte en las hojas
Trazadas por los versos del viento.  

segunda-feira, novembro 26, 2012

AGFA: A Grande Ferida Aberta

A guerra do ultramar dentro de uma caixa e rolo de fotografias AGFA. Na realidade, achei que este acrónimo da antiga marca alemã me remeteria para "Memórias de África", tipo Meryll Streep e o Robert Redford em romance adúltero, mas não. Isso seria através das lentes de Hollywood (que nunca tiveram interessente por um Ultramar sete vezes com maior esforço de guerra que o Vietnam), aqui apenas há umas máquinas baratas, camuflados suados, fotografias reveladas com tanto que não se quer revelar, e uns quantos camaradas de G3 na mão que de lá voltaram, ficando para sempre lá. 
Por isso, AGFA: A Grande Ferida Aberta. 

A primeira de várias fotos que quero dedicar aos combatentes do Ultramar. Não estive lá. Mas o respeito pela memória de quem lá esteve está no meu ADN.



Enrique Meneses à lupa...

Que vida tão interessante. Enrique Meneses fotografou o século XX como um caçador abate eficazmente a sua presa. Objectiva e obturador rápido, focando o essencial. Quis conhecê-lo, literalmente, à lupa através de uma reportagem que o meu bom amigo Pedro recortou do jornal "El País".
Para conhecer um pouco mais. Vale a pena. 
"Enrique Meneses (Madrid, 1929) ha sido corresponsal en Oriente Medio y la India, director del programa A toda plana de Televisión Española,  director de la edición española de Playboy, creador y director de Los Aventureros en Radio Nacional y,posteriormente fundador de “Los Aventureros”, mensual con dos ediciones, española e inglesa. Realizó la serie “Robinson en África”, para TV2, un periplo de 20.000 km, 112 días y 11 países con sus hijas Bárbara y Anne Isdabelle de 15 y 14 años, de protagonistas. Además de trabajar en Life y Paris-Match, ha colaborado en decenas de diarios y revistas.  Fue el primer reportero que ascendió a Sierra Maestra con el Ché Guevarra y Fidel Castro durante la Revolución Cubana. Ha publicado los siguientes libros: Fidel Castro (Ed. Afrodisio Aguado, 1966), Nasser, el último faraón (Prensa Española, 1970), La bruja desnuda (Ed. Alce, 1976), Seso y Sexo (Ed. Campus, 1979), Escrito en carne (Planeta 1981), Una experiencia humana… Robinson en África (Planeta, 1984), La nostalgia es un error (Planeta), José Luis de Vilallonga (Grupo Libro 88, 1993), Castro, empieza la revolución (Espasa Calpe, 1995), África, de Cairo a Cabo (Plaza & Janés, 1998) y Hasta Aquí Hemos Llegado (Ediciones del Viento, marzo 2006). Ha recibido los siguientes premios: Asociación Nacional de Informadores Gráficos de Prensa  (Anigp) 2005: Premio Liberpress 2007; Premio Bitacora, mejor blog de política 2008; Premio Miguel Gil 2009; Premio @ Asociación Prensa Digital Andalucía 2009, “Premios Bitácoras.com”2009; Premio de Honor “Cirilo Rodríguez” 2010".

sexta-feira, novembro 23, 2012

Pois e Pois pois (Alexandre O'Neill)


Lemos aqui um dia Pois pois, de Alexandre O'Neill. Faltava-nos o Pois, que estava na página anterior do livro. Porque não ler os dois de seguida?


POIS

O respeitoso membro de azevedo e silva
nunca perpenetrou nas intenções de elisa
que eram as melhores. Assim tudo ficou
em balbúrdias de língua cabriolas de mão.

Assim tudo ficou até que não.

Azevedo e silva ao volante do mini
vê a elisa a ultrapassá-lo alguns anos depois
e pensa pensa com os seus travões
Ah cabra eram tão puras as minhas intenções

E a elisa passa rindo dentadura aos clarões.


POIS POIS

Sobre o tampo da mesa
Rabo de Cavalo cotovelo-groselha
defronta Patilhas Grisalhas cerveja-cotovelo

Falam de dominguins versus ordoñez
de hemingways na brecha na querela
do assassino mano a mano

Falam a ouro e a sangue no ruedo de mármore

Sob o tampo da mesa
três joelhos conversam roçagantes:
o dele (sarja) entre os dela (nylon).

Rabo de Cavalo está quadrada.
Patilhas Grisalhas então entra a matar.

O sobre e o sob logo se confundem.
Que prometia (olé) o cartaz dele? 



Do seu livro Entre a Cortina e a Vidraça (1972)



(A fotografia é de Carol Mulek)



quinta-feira, novembro 22, 2012

Que conhecimento da democracia - José Gil

Divórcio, entre conhecimento e democracia
“ a lentidão da «aprendizagem da democracia», segundo a expressão consagrada pelo povo português. Os progressos no campo da história, do direito, da sociologia do nosso país não tiveram equivalência na prática da democracia, repercutindo-se timidamente no conhecimento geral que o povo tem dos mecanismos do Estado em que vive. Mais: depois do surto que se seguiu ao 25 de Abril, os ânimos voltaram a uma espécie de apatia, tanto no campo político como, digamos, no da cidadania. As universidades, que vivem em círculo fechado, mas também o regime partidário, as suas práticas e os seus discursos, o «autismo» dos governos e a sua visão medíocre do futuro, a falta de imaginação e a falta de coragem políticas contribuíram largamente para que os reflexos herdados da ditadura demorassem (e demorem) a dissolver-se. Refiro-me ao medo, à passividade, à aceitação sem revolta do que o poder propõe ao povo. Como se, tal como antigamente, a força de indignação, a reacção ao que tantas vezes aparece como intolerável, escandaloso, infame na sociedade portuguesa (tolerado, aceite, querido talvez pela maneira como as leis e regras democráticas se concretizam na sociedade, quer dizer no húmus das relações humanas), se voltasse para dentro num queixume infindável quanto à «república das bananas» ou «a trampa» que decididamente constituiria a essência eterna de Portugal, em vez de se exteriorizar em acção. Gostaria de insistir num ponto: o legado do medo que nos deixou a ditadura não abrange apenas o plano político. Aliás, a diferença com o passado é que o medo continua nos corpos e nos espíritos, mas já não se sente. Um aspecto desse legado deixou uma marca profunda num campo específico: no saber, na hierarquia do poder-saber que Salazar promoveu, cultivou e utilizou em proveito directo do poder autocrático que instaurou. O efeito desse medo hierárquico faz-se ainda hoje sentir. Por exemplo, o direito à cultura e ao conhecimento ainda não chegou ao sentimento da população portuguesa. Que esse direito existe e que cada português deveria vê-lo para si cumprido – todos o sentem, mas como parte do que idealmente lhes é devido pela justiça (que, aí, nunca se cumpre). Essa aspiração não é, pois, uma exigência tão evidente para os portugueses que estes, iletrados e analfabetos, saiam para a rua em manifestação pelo direito à cultura. Porquê? Porque o 25 de Abril não conseguiu abolir a divisão instruído/sem instrução que correspondia mais ou menos ao par poder-saber/pobreza-ignorância do tempo do salazarismo. Porque na sociedade portuguesa actual, o medo, a reverência, o respeito temeroso, a passividade perante as instituições e os homens supostos deterem e dispensarem o poder-saber não foram ainda quebrados por novas forças de expressão da liberdade. Numa palavra, o Portugal democrático de hoje é ainda uma sociedade de medo. É o medo que impede a crítica. Vivemos numa sociedade sem espírito crítico – que só nasce quando o interesse da comunidade prevalece sobre o dos grupos e das pessoas privadas. Mas não somos livres? O poder que nos governa não é livre e igualmente eleito por todos os cidadãos? Estaremos nós a praticar, de forma perversa, mais uma variedade do queixume? Não se pode, hoje, dissociar direitos democráticos e direitos de cidadania. A cidadania política, que engloba as eleições livres com o direito universal de escolher os seus representantes, não se concebe sem os direitos sociais, iguais para todos – direitos à educação, à saúde e todo o tipo de serviços sociais. Numa outra linguagem, poderia dizer, com Espinosa, que o fim de todo o Estado – e toda a organização dos homens em Estados é fundamentalmente democrática, para Espinosa – é assegurar a liberdade do cidadão, entendendo por liberdade o máximo possível da expressão, em sociedade, do seu conatus, quer dizer, da sua potência de vida. Ora, há diversas expressões, diversos graus de liberdade. Há sociedades e homens mais ou menos livres. Portugal conhece uma democracia com um baixo grau de cidadania e de liberdade. Dou a esta última palavra um sentido próximo do sentido espinosista. Sabemos pouco – quero dizer, raros são aqueles que conhecem – o que é um pensamento livre. Raramente no nosso pensamento se exprime o máximo da nossa potência de vida. Dito de outro modo: estamos longe de expressar, de explorar, e portanto de conhecer e de reivindicar os nossos direitos cívicos e sociais de cidadania, ou seja, a nossa liberdade de opinião, o direito à justiça, as múltiplas liberdades e direitos individuais no campo social. “ “Que conhecimento da democracia?” em “Portugal Hoje, o medo de existir “, José Gil

domingo, novembro 18, 2012

"O nome desfigura as coisas."


Este é um dos aforismos de Teixeira de Pascoaes que guardo na minha memória desde que me cruzei com esse pequeno livrito da Assírio&Alvim. Ontem, voltei a cruzar-me com ele. A tarde estava tristonha, chuvosa, húmida, mas o aconchego da companhia compensava a climatologia.

Eis mais alguns aforismos de Teixeira de Pacoaes:


- "A morte é a pessoa feminina de Deus."

- "Deus não está nos preceitos da Moral."

- "A corrupção favorece as ideias novas."

- "Os animais são pessoas, como nós somos animais."

- "Ser uma coisa evidente é ficar reduzido a quase nada."


- "Se Deus não fosse um absurdo, quem lhe ligaria importância ou acreditaria nele?"

- "O homem, antes de tudo, é poeta, por mais gordo ou adaptado à rotundidade planetária; e depois é pedagogo, aferidor de pesos e medidas, engenheiro, deputado e outras deformidades sociais."

- "O segredo da nossa vida moral não reside na etérea consciência, mas nas profundas da inconsciência, onde rastejam a dissimulação, a crueldade, o medo e outras virtudes adquiridas nos combates."

- "O que não aconteceu, nunca esteve para acontecer, e o que aconteceu, nunca esteve para não acontecer."

- "O amor é fome de outra vida, desejo de transitar. Quando dois amantes de abraçam e beijam, entredevoram-se, morrem um no outro, de algum modo, e transitam para um novo ser. A vida não pode ficar em nós, a repetir-se, que repetir é estar parado, é ocupar o mesmo lugar."

sexta-feira, novembro 16, 2012

"É pau, e rei de paus, não marmeleiro", Bocage


É pau, e rei de paus, não marmeleiro,
Bem que duas gamboas lhe lobrigo;
Dá leite, sem ser árvore de figo,
Da glande o fruto tem, sem ser sobreiro:

Verga, e não quebra, como o zambujeiro;
Oco, qual sabugueiro, tem o embigo;
Brando às vezes, qual vime, está consigo;
Outras vezes mais rijo que um pinheiro:

À roda da raiz produz carqueja:
Todo o resto do tronco é calvo e nu;
Nem cedro, nem pau-santo mais negreja!

Para carvalho ser falta-lhe um u;
Adivinhem agora que pau seja,
E quem adivinhar meta-o no cu.
Bocage

Ah, grande Bocage, "o putanheiro. Passou vida folgada, e milagrosa; comeu, bebeu, fodeu sem ter dinheiro!" E hoje, serve-me de auxílio, inspiração e bibliografia para esta minha labuta docente. És grande!!!
Boa noite e até amanhã!

quarta-feira, novembro 14, 2012

"Passo o cano da Walter pelo peito". FAP
















AVÉ CHEIA DE GRAÇA

Passo o cano da Walter pelo peito.
Lá fora andam soldados, ouço a voz
de alguém abrindo a casa do correio.
Quem daria por coisa tão nenhuma?
Ó palmeiras adeus. Ó pedras negras
onde ficou um rasto de borracha.
E este rio também, que me ensinava
a descerrar os olhos prisioneiros.

Estou deitado no catre. A toda a volta
eu vejo roupa, roupa em malas, e uma estante
com livros, roupa ainda, sapatilhas.

Não é desta, já sei. O cano frio
acordou qualquer coisa nas costelas.
Avé cheia de graça, e o seu ventre.

Fernando Assis Pacheco, 1964. 

Em plena Guerra do Ultramar. Versos que te deixam com "pele de galinha". Uma poesia de um "eu estilhaçado". Um poema que acho que o meu pai vai gostar de ler. Ele que, ao longo dos anos, me ensinou a ter esta empatia por quem não pôde de lá voltar, ou que voltou ficando lá...
Boa noite.

Greve Geral/Huelga General


Para que possa dizer ao meu filho, tal como o meu pai me disse e o meu avô, que lutei pela nossa dignidade.
Para que pueda decir a mi hijo, como me dijo mi padre y mi abuelo, que he luchado por nuestra dignidad.


terça-feira, novembro 13, 2012

Os trabalhos de amor são os mais leves - FAP


Os trabalhos de amor são os mais leves
de quantos algum dia pratiquei
na cama as alegrias fazem lei
e se me queixo é só de serem breves

eu vivo atado às tuas mãos suaves
num nó de que este corpo já não sai
ferve o arco do sol a tarde cai
andam voando pelo céu as aves

mágoas outrora muitas fabriquei
e em países salobros jornadeei
ao dorso das tristezas almocreves

a vez em que te amei um outro fui
comigo fiz a paz nada mais dói
e os trabalhos de amor nunca são graves

Lisboa
12-X-1993, 23-XII-1993

Fernando Assis Pacheco

E amanhã será outro dia. Mas de Greve Geral! Perdoem-me (ou não, é-me indiferente...) o patriotismo bacoco:
"Viva Portugal!" "!Viva España!"
Apetece-me gritar estes dois países que são sinónimo de amor leve, aos quais vivo atado, mas que vivem tempos graves...

segunda-feira, novembro 12, 2012

Explicação da Eternidade

devagar, o tempo transforma tudo em tempo. 
o ódio transforma-se em tempo, o amor 
transforma-se em tempo, a dor transforma-se 
em tempo. 

os assuntos que julgámos mais profundos, 
mais impossíveis, mais permanentes e imutáveis, 
transformam-se devagar em tempo. 

por si só, o tempo não é nada. 
a idade de nada é nada. 
a eternidade não existe. 
no entanto, a eternidade existe. 

os instantes dos teus olhos parados sobre mim eram eternos. 
os instantes do teu sorriso eram eternos. 
os instantes do teu corpo de luz eram eternos. 

foste eterna até ao fim. 

José Luís Peixoto, in "A Casa, A Escuridão"

sábado, novembro 10, 2012

Eis o veículo do futuro



Achei isto em Humor inteligente, uma página do Facebook.



quinta-feira, novembro 08, 2012

Numa tarde de Outono, apetecia-me o sol dum piquenique de Primavera

Pão alentejano,
navalha afiada,
retalhadas as azeitonas,
fatiado, com jeitinho, o queijinho.
Que mais se quereria?
Ah, um tintinho!

quarta-feira, novembro 07, 2012

Simple Pleasures

Num momento em que o meu biceps femoral se queixa com uma contratura, recordo como sinto falta de umas "corridinhas" por a ecopista atlântica...
Nada que o tempo, anti-inflamatórios e umas técnicas de fisioterapia não resolvam. Pena que estou com pouca paciência...