Sou um fã desta crónica semanal do João Miguel Tavares. E
posso dizer-vos que, apesar de não ter 3 filhos, o sou por empatia e por mérito
literário. Quantos homens modernos, melhor contemporâneos, não veem a sua
biografia nestas crónicas tão reais quanto humorísticas?
Posso incluir-me nesse grupo. Para tentar escrever estas
escassas linhas fui interrompido, no mínimo, 4 vezes pelo meu filhote que hoje ficou em casa a "trabalhar comigo":
1º Para me dizer que se ia pôr dentro da caixa amarela em
forma de autocarro. Isto confirmado com os brinquedos espalhados pelo chão
verde do tapete do autódromo do IKEA;
2º Quando me dei conta que estava outra vez sem pantufas e
que, com o frio que faz, amanhã já está para aí a fungar ou a tossir como é
costume;
3º A necessidade de mudar uma bomba de cocó Dodot, cujo efeito já
se estava a fazer sentir junto à mesa onde trabalho. As toalhitas sempre ajudam
no combate a esta "radiação", sem esquecer do velcro que isola a caca
no interior da fralda. Há que usá-lo sempre!
4º "Papá qué água!". A hidratação relembrada com o
copo na mão e um "qué mais!" que me leva à cozinha, mais uma vez e me
faz perder essa linha lógica tão útil num texto ou em qualquer trabalho dos que
costumo fazer...
Enfim, agora estou a olhar para ele e sei que já está
descalço outra vez. Ponto. Pausa. Levanto-me da cadeira. Sento-o no meu joelho.
Digo-lhe outra vez que não pode estar descalço. Beijo-o e aperto-o como se
fosse uma espécie de peluche anti-stress. Ri-se com essa cara de dois anos que
anda aos saltos tipo “xóxó”. Volto a sentar-me. Perdi o fio condutor outra vez.
Mas é nestas perdas de tempo, de sono (um gritante: “QUERO
DORMIR ATÉ AO MEIO-DIA – qualquer dia-!), de paciência, etc. que encontramos
outras coisas. E vale a pena. Mesmo que nos queixemos. É só para que nos
recordemos do nosso lugar no mundo neste presente.
JÁ ESTÁ OUTRA VEZ DESCALÇO!!!
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