segunda-feira, outubro 17, 2016

O monge e o gato ("photo by Jasper Flemming")

O monge e o gato

No mosteiro havia apenas um gato. Não tinha dono apenas um monge tratador que, para além de tratar da barriga do felino, cuidava com paciência de encinho o jardim zen.

O gato gostava de apanhar sol num dos grandes seixos trazidos do ribeiro, ali mesmo no meio do jardim, deixando um pequeno rasto de patitas atrevidas na fina areia, lavrada, ordenada e simétrica pelos dentes do encinho do encarregado monacal. Esta presença gatuna não ajudava à concentração do monge tratador, chateava-o frequentemente, talvez por não conseguir acariciar a natureza do animal.

Um dia, ao arar a suavidade do jardim, viu como, pata ante pata, o gato desafiava a sua presença e se sentava a olhá-lo desde o centro do areal. Pensou para consigo mesmo ao ver-se fitado por aquele verdejante olhar: “Ainda por cima desafia a minha presença, eu que sou quem lhe dá de comer!”.

O momento durou o tempo que o gato quis que durasse. Como se estivesse farto dos pensamentos inúteis do tratador, pisou outra vez a areia em direção ao indignado monge.

Parou a meio e defecou no jardim sem geometrias floridas.

O monge não soube se teve naquele instante o seu quê de zen ou se foi posteriormente, quando foi buscar uma pá e apanhou as provas daquele momento. 

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