quinta-feira, fevereiro 23, 2017

Que semana!

Que semana! Tantas coisas se acumulam e tanto haveria para se processar. Aponto aqui esta nota, como sempre, porque sei que a memória me atraiçoa e irá ainda mais trair com essa meretriz que é a degeneração celular. Já a música, mesmo se a esquecer, sempre me irá perpassar o corpo, algo que, se já não puder ler ou escrever, o verbo não fará. Basta que alguém a toque ou carregue num qualquer play, bem escolhido!

Primeiro o Mestre Joaquim Soares “foi pra Lisboa” definitivamente. Fiquei sem mestre de cante alentejano.

Segundo, o Sérgio Godinho por cá. O nervosismo de o conhecer e o medo de, como diz o Gonçalo Cadilhe, “gostar tanto do foie gras que fico defraudado quando conheço o ganso”. Tendo em conta recentes experiências, estava acagaçado a esse nível, mas se alguém pôde ficar defraudado foi ele. Vivi um momento marcante, sei-o bem e senti-o ainda melhor. 

Terceiro. O Zeca morreu há 30 anos. Há tanta necessidade de revisitar a sua obra e os valores dos seus versos, a dignidade da sua vida. 

Mesmo se não conhecesse as suas obras, tal como já me referi a Pessoa, indiretamente eles estariam aí para a atenção dum Luis a quem hoje, publicamente, chamaram poeta e sentiu-se tão bem, com um terrível remorso de saber-se arrogante, ao gostar de receber esse elogio.

Passados esses 30 segundos de alago, voltei a mim, ao chão do meu ser e à casa que construo para os meus filhos. Fabriquei um “Golden Ticket” para o meu Charlie, passaporte fantástico para a realidade do sonho, o atrevimento do trabalho e a teimosia de querer sempre saber quanto vale. Nesse papel dourado vi uma grande fortuna. Fabriquei-o eu, atrevi-me eu, mas há sempre alguém, ou algo que nos empurra, nos critica construtivamente porque dá valor ao verbo construir, porque sabe construir. Esses oiço-os com atenção. Os outros que criticam construtivamente e jamais agarraram na pá de pedreiro, jamais sujaram as mãos e a roupa com cimento, jamais levantaram o cu da sombra do sobreiro, esta semana aprendi a não os ouvir. Prestei mais à honestidade da garganta sedenta duma mini por se trabalhar tanto em obras concretas e dizer: vai para o caralho!  

Não valho grande coisa. Valho o que valho. As minhas cicatrizes e gargalhadas não fazem mal a ninguém. Quero ser honesto comigo mesmo. Talvez seja meio caminho andado para sê-lo com os outros. 

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