quinta-feira, fevereiro 01, 2024

Carta para X. "Perfect Days"

Carta para X.

Badajoz, 1 de fevereiro de 2024.

Querido X,
Talvez "todos os dias sejam bons", filho, como diz o ditado japonês. Hoje o meu foi como este filme que vimos juntos, perfeito. Tu, de oito anos, a projetares o teu olhar numa sala quase vazia de gente, porém repleta de beleza e simplicidade. Eu, de oitos multiplicados em quarentas, a lidar com a incerteza e com as dúvidas de valer a pena intervir numa sociedade ansiosa e desatenta, contente por uma pessoa, pela qual tenho uma grande admiração intelectual e artística, se ter lembrado de mim, solidário com alguns que os vejo sofrer e preocupado com este mundo do campo (que também é nosso) não se fazer entender na cidade que o necessita para ser alimentada... No fundo, a diferença entre tu e eu é esta multiplicação de tanta coisa inerente à passagem dos anos.
Contudo, um dia só é sentido, com alegria ou dor, se é vivo e o nosso assim foi. Não sabemos se haverá esse "próximo", se continuaremos até "ver o mar". Queremos ter essa próxima ocasião dos nossos mundos, de idades diferentes, se continuarem a tocar. Esperamos com a certeza que a "próxima oportunidade é a próxima" e o "agora é o agora"... É aquilo que tanto falamos quer para atravessares a rua, ajudar em casa, estar na sala de aula, estares à tua vontade, mesmo que distraído, sempre saberás colocar a tua vontade na atenção.
Este dia foi nosso X. Já passou. A nossa atenção ficou no agora.

Teu sempre.
Papá 

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