segunda-feira, janeiro 05, 2015

Ex libris

“Ex-libris” -da expressão latina “ex libris meis”- expressa, literalmente, "dos livros de" ou "faz parte de meus livros", empregava-se para associar um livro a uma determinada pessoa ou a uma biblioteca específica. Este complemento circunstancial de origem (“ex + caso ablativo” que tive de recordar dos meus rudimentos de latim) indica que tal livro é "propriedade de" ou obra "da biblioteca de".
Geralmente trata-se de um carimbo, um selo personalizado, marca que escritura, sem notário, esse sentimento de propriedade, que não deixa de ser materialismo e que não deixa de ter peso na nossa bagagem, quase sempre agradável, exceto se várias mudanças te mostram o peso literal da crença que possuir muitos livros equivale a muita cultura. A realidade lombálgica trata sempre de nos pôr no nosso lugar.
Nunca tive nenhum “ex-libris” e confesso que a minha relação com o livro é de amor, de sensual toque, algo possessivo até, de interesse desinteressado, invasiva de assédios de notas a divagar a lápis. Mas com o passar dos dias mais aberta à partilha, a sair com hora e dia de regresso -definido pela nobreza literária de a quem se empresta- à estante de origem ou obséquio de estima porque sabemos que já nos deu tanto que é hora de mudar de residência e, quiçá, dar ainda mais.
A presença da Elsa, o seu presente partilhado comigo nesta época de Natal e Reis, foi carimbada no canto do meu bloco de notas que todos os dias escrevo… Embebo o carimbo num azul de tapete de tinta e marco a minha mais efémera propriedade, os meus livros, a minha biblioteca. Apenas desejo que não me absorva, que não se oculte no pó dos momentos ou que a vida me mude tanto ao ponto de deixar de acreditar que uma biblioteca tem de ser tanto pública como respeitada, pois um livro nunca pode ser único e exclusivo de uma criatura qualquer.
Que o ex-libris seja uma espécie de carimbo à moda de passaporte. É isso que penso fazer e tenho aprendido de grandes amigos.  

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