“Ex-libris” -da expressão latina “ex libris meis”- expressa,
literalmente, "dos livros de" ou "faz parte de meus
livros", empregava-se para associar um livro a uma determinada pessoa ou a
uma biblioteca específica. Este complemento circunstancial de origem (“ex +
caso ablativo” que tive de recordar dos meus rudimentos de latim) indica que
tal livro é "propriedade de" ou obra "da biblioteca de".
Geralmente trata-se de um carimbo, um selo personalizado,
marca que escritura, sem notário, esse sentimento de propriedade, que não deixa
de ser materialismo e que não deixa de ter peso na nossa bagagem, quase sempre agradável, exceto se várias mudanças te mostram o peso literal da crença que possuir muitos livros equivale a muita cultura. A realidade lombálgica trata sempre de nos pôr no nosso lugar.
Nunca tive nenhum “ex-libris” e confesso que a minha
relação com o livro é de amor, de sensual toque, algo possessivo até, de
interesse desinteressado, invasiva de assédios de notas a divagar a lápis. Mas
com o passar dos dias mais aberta à partilha, a sair com hora e dia de regresso
-definido pela nobreza literária de a quem se empresta- à estante de origem ou
obséquio de estima porque sabemos que já nos deu tanto que é hora de mudar de
residência e, quiçá, dar ainda mais.
A presença da Elsa, o seu presente partilhado comigo
nesta época de Natal e Reis, foi carimbada no canto do meu bloco de notas que
todos os dias escrevo… Embebo o carimbo num azul de tapete de tinta e marco a
minha mais efémera propriedade, os meus livros, a minha biblioteca. Apenas
desejo que não me absorva, que não se oculte no pó dos momentos ou que a vida
me mude tanto ao ponto de deixar de acreditar que uma biblioteca tem de ser
tanto pública como respeitada, pois um livro nunca pode ser único e exclusivo
de uma criatura qualquer.
Que o ex-libris seja uma espécie de carimbo à moda de
passaporte. É isso que penso fazer e tenho aprendido de grandes amigos.
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